07 junho 2008

As razões do nosso esquerdismo (3)

A contenção do PCP até o 28 de Setembro de 1974 tinha-o levado a ter uma certa coerência de actuação no todo nacional. A sua maior força no Sul era contida para que o Norte pudesse libertar-se sem constrangimentos evidentes. No entanto o PCP cedo se apercebeu que no Norte as coisas, a não ser em algumas reservas industriais, nunca seriam iguais às do Sul.
O PCP coibiu-se mesmo de dar projecção aos seus membros e enveredou pelo célebre apoio ao MDP, que, com o seu estatuto frentista sempre teria uma melhor receptividade. Esta é uma estratégia que se manteve com coerência desde as eleições marcelistas de 1969 até às eleições democráticas de 25 de Abril de 1975.
No entanto após o 28 de Setembro o PCP achou-se com mais liberdade para dar mais atenção aos centros de decisão em que as coisas seriam em última instância decididas. E aí utilizava toda a artilharia pesada que entretanto havia adquirido no saldo a que o exército se submeteu. Os compromissos não eram muito sólidos mas a brincadeira não desagradou a quem tinha sido submetido a mais de quarenta anos de sisudez.
Após o falhanço que o MDP constituiu nas eleições de 25 de Abril de 1975, o PCP deixou na prática de se preocupar com esta diferenciação Norte/Sul. Os apelos eram muitos e o golpe de 11 de Março de 1975 permitiu que fossem negligenciados esses resultados. Na prática o PCP descobriu que tinha na mão todas as reivindicações que a estrema esquerda sempre fizera mas que só ele seria capaz de gerir.
O 11 de Março foi outra manifestação de aventureirismo, em que a direita dá todos os pretextos para se desacreditar a si própria e para permitir avanços no domínio indisciplinado dos exércitos.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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