06 junho 2008

As razões do nosso esquerdismo (2)

De 25 de Abril de 1974 a 28 de Setembro de 1974 o PCP fez uma política de contenção, não raro tendo de se opor às tomadas de posição dos esquerdistas na ocupação de casas, de empresas, no radicalismo em geral. O PCP brandiu constantemente as teorias de Cunhal sobre o esquerdismo burguês radical de fachada socialista.
O exército tinha porém caído no erro de colocar à sua frente o mais populista dos seus generais, Spínola, incapaz de viver sem uma corte de incondicionais a seu lado, desejoso de ser decisivo na implantação em Portugal de um regime presidencialista que achava mais adequado ao nosso carácter demasiado pueril.
Anticomunista primário, como então se dizia, não o escondia e portanto, embora fosse tradição dos partidos comunistas apoiarem estes líderes iluminados, neste caso era manifestamente impossível. O PCP viria a apoiar um militar frio e calculista como Costa Gomes perante o suicídio político que foi aquela ridícula tentativa de golpe popular/palaciano em 28 de Setembro.
Arriscando tudo, Spínola decapitou a direita, obrigada à pior indigência ideológica, a lutar pela sobrevivência de modo quase clandestino. Toda a gente parece ter passado a ter medo de ser contra o Partido Comunista e este aproveitando-se da situação passou a mostrar permanentemente os dentes, mas alternadamente, umas vezes com e outras sem sorriso.
O VI Congresso extraordinário do PCP, convocado para retirar a ditadura do proletariado dos seus estatutos, viu-se na dificuldade de manter a coerência e aprovar as alterações propostas e festejar um acontecimento que, pela primeira vez, lhe abria as portas de um futuro à altura dos velhos estatutos. O PCP em vez de tentar agradar ao exército que havia, passou à tentativa de o manipular e guiar.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
O mais perfeito retrato da solidão humana