28 junho 2008

As razões do nosso esquerdismo (23)

As circunstâncias em que as pessoas formulavam as suas expectativas em 1974, 1975 ou nos dias de hoje são claramente diferentes. Isto tem que ser relembrado tanto a quem viveu esses momentos, como também aos jovens que não nem qualquer experiência de vida numa sociedade fechada.
Essas circunstâncias são externas, são mais de natureza económica política e sociológica, mas também têm uma repercussão na esfera particular, isto é psicológica. Vendo por este prisma as diferenças de comportamento de pessoas do mesmo tipo nestes dois momentos históricos são claras.
Os idealistas do PREC não defendiam a bela vida da classe média tão do agrado do Bloco de Esquerda de hoje. Os idealistas do PREC não viam a vida dos verdadeiramente ricos como o modelo a atingir por eles. Os idealistas do PREC eram comedidos nas suas expectativas, embora quisessem, como é natural, ter sempre uma vida boa, mas modesta.
Os operários do PREC não ambicionavam a bela vida da classe média de hoje. Os operários queriam não ter problemas de alimentação, ter uma casa mesmo pequena para habitar, poder dar aos filhos um pouco mais de educação do que aquela que tinham recebido. Esse tipo de operários hoje já não existe, a não ser sob a forma dos reformados que continuam a falar dum mundo definitivamente morto.
O mundo que era expectável a partir do PREC suscitou a adesão dalguns idealistas e do sector operário mas acabou por não ser suficientemente apelativo para atrair a força psicológica capaz de aguentar a sua defesa. O mundo que é expectável a partir de hoje nem sequer atrai quaisquer energias idealistas, tudo se resume a ambicionar uma vida cada vez mais bela para a classe média e lutar por chegar a ela.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana