30 junho 2008

As razões do nosso esquerdismo (25)

A ideologia do PC assenta num determinismo inquestionável, na defesa de um poder forte, pelo menos enquanto não forem adoçados os instintos tidos por mais anti-sociais da natureza humana. Mas se o determinismo não age no sentido esperado nada impede que procure usar todos aqueles instintos no sentido de combater o poder instituído.
Há pois situações em que o PC não pode defender um poder forte se ele procurar levar a sociedade numa direcção diferente e não pode fazer um combate aos instintos anti-sociais se esse combate ajudar a fortalecer uma sociedade que ele rejeita.
Com o 25 de Novembro de 1975 o PC perdeu a perna que tinha no poder e passou a atacar este como causador de todas as perversões, porque a teoria comunista aceita que há períodos regressivos em que a humanidade expia as suas penas, aceita perder mas não aceita não ter razão.
Esta religiosidade laica levou o PC e os esquerdistas em geral a lutar pela destruição do Estado após o 25 de Novembro. Mas facilmente obrigados a desistir desses intentos, os esquerdistas tornaram-se em julgadores e justiceiros que proclamam a desgraça em que a humanidade se deixou cair e prometem uma amanhã encantado para todos, sem que deixem de achar ser fundamental castigar antes alguns com as labaredas do seu inferno.
Todos nos admiramos, todos os que se pretendem intelectuais, se deveriam questionar seriamente por que motivo eles, ou pelo menos alguns deles, se deixaram enredar nas teias de um sistema de raciocínio que defende a impiedade e renega qualquer espécie de laicismo. Porque não cabe aos intelectuais defender a aplicação de qualquer expiação de penas de forma abstracta e impessoal.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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