22 junho 2008

As razões do nosso esquerdismo (17)

A cada etapa que o esquerdismo ia prosseguindo mediante os erros de uma direita acéfala, cometidos entre 25 de Abril de 1974 e 11 de Março de 1975, sempre se ponha o problema do ritmo. O PC que influenciava mas não dominava os centros de decisão, que não promovia grandes saltos mas também os não rejeitava, que partira dum aparelho embrionário para uma estrutura em aprendizagem, precisava de tempo.
A consolidação era uma palavra-chave numa política de passos seguros. O tom paternalista para os mais aventureiros, o tom agressivo para os opositores declarados, o tom afável para os militares, o tom sereno para os apoiantes, o tom anestesiante para os indiferentes, eram empregues pelo PC de modo a disfarçar uma vivência nervosa duma situação complicada.
Perante uma relação de forças desfavorável, o PC acreditava na consolidação do seu próprio aparelho, na melhoria do ambiente de apoio exterior. Um momento chegou em que os antecessores dos actuais esquerdistas com origens no radicalismo pequeno burguês de fachada socialista passaram a constituir o inimigo principal do PC pelo efeito destabilizador e de descontrolo. O PC queria impor o seu ritmo após o período de aventura. Até como aparelho já tinha mais a perder que a ganhar.
Com a derrota dos comunistas em 25 de Novembro de 1975 ficaram mais livres os esquerdistas. Paradoxalmente também os comunistas do PC ficaram libertos da aplicação de um ritmo de poder quando o não exerciam senão virtualmente. A partir daí não faltou substância para o esquerdismo se alimentar, nem espaço para existir, o que seria problemático se o PC fosse poder.
Numa espécie de vingança contra um regime que o rejeita o PC passou a dar cobertura a todas as contestações. Como para todo o esquerdismo o poder deixou de estar nos seus objectivos. A queda do muro de Berlim acentuou o seu desespero. Hoje o PC não se enerva porque não quer ser poder. Satisfaz-se em ser contra-poder e destruir somente.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
O mais perfeito retrato da solidão humana