25 junho 2007

O interior é um factor decisivo na regionalização

Portugal é um País rampeado, inclinado para o mar. Mas valha a verdade que não o é homogeneamente. Tem mais declive para um lado, Lisboa, do que para o resto da costa. E o próprio litoral Norte pende para o Centro-Sul, assim como o Sul também balança para essa posição ao nível do mar que é Lisboa.
Mas mesmo que se conseguisse nivelar o litoral de Caminha a Vila Real de Santo António, mesmo assim o País inclinar-se-ia exageradamente para o oceano, esse mar tão salgado mas que nós adoramos e bendizemos, porque é a nossa verdadeira fronteira com o mundo.
É por isso que a grande questão em que os defensores da regionalização têm que assentar é na luta pertinaz e consequente contra a desertificação do interior, esse interior que é o berço da maioria de nós e a que nós viramos as costas logo que arranjamos um pouso à beira-mar.
Libertamo-nos definitivamente dos nossos irmãos espanhóis na sequência da derrota de Armada Invencível e nunca haveríamos de ter qualquer necessidade de afirmação perante eles mas tudo mudou. Já começamos a ter vergonha nessa outra fronteira que tão mal nos deixa ficar.
É verdade que quem vê telejornais, e presumo que quase cem por cento de nós, se surpreende todos os dias com coisas novas que nos são mostradas e aparecem fora dos grandes aglomerados urbanos.
O problema é que no interior se gastam milhares e já se consegue uma obra com certa visibilidade e nas capitais se gastam milhões para obter o mesmo efeito. O problema é que no interior se discute interminavelmente se se há-de iluminar uma torre medieval e no Porto não há problema para iluminar os arcos da Ponte da Arrábida toda a noite. E, embora haja, não podemos dizer que é tudo dinheiro mal gasto.
O reforço das disparidades regionais, a cada vez menor coesão nacional, parecem ser as consequências mais evidentes das medidas propostas por alguns regionalistas que, no sei afã anti-centralista, mais parece anti-lisboeta, advogam ideias contraproducentes que, a serem postos em prática, nada trariam de benéfico para o interior.
Há aqueles que terão o suficiente calculismo para disfarçar, mas convenhamos que haverá outros que nem disto são capazes e mais valia reflectirem melhor. Nunca será possível nivelar os territórios, mas o nivelamento dos mais ricos parece preocupar mais do que a recuperação dos mais pobres.
A questão do interior não é fácil porque depois do capital também já lá vai faltando gente e, se não houver uma inversão desta situação, tudo se vai agravar. Os mais cínicos dirão que não havendo residentes também não haverá votos contra a regionalização.
É uma tendência tão forte que só o Estado está em condições de contribuir para a sua inversão. Mas, estando asseguradas as infra-estruturas básicas, terão que ser os empresários a ter a iniciativa, a capacidade e o engenho de encontrar as actividades que aí terão implantação.
A simples aposta nos sectores tradicionais não é suficiente para garantir a sustentabilidade de um sistema sócio-económico em profunda crise, arrastado precisamente por aqueles sectores.
Realço o que Emilio Pérez Touriño, Presidente da Junta da Galiza, diz em entrevista ao JN:
A descentralização política, a autonomia, ajudou muito ao que o meu antecessor (Fraga Iribarne) chamava de auto-identificação do país, ao gerar forças próprias e estímulos endógenos. Mas não é o cem por cento da explicação. Tem também muito a ver com iniciativa empresarial. A autonomia foi um factor decisivo para gerar iniciativa empresarial, para lhe dar asas, para que voassem as iniciativas e para dotar a Galiza de equipamentos, de serviços, de estruturas, e para o crescimento das universidades. A excelência empresarial tem muito a ver com o âmbito autonómico. Mas, dito isto, também é verdade que a própria iniciativa empresarial, que umas vezes acerta e outras não, foi determinante.

24 junho 2007

Dêmos força à campanha contra o fogo nas florestas

Os primeiros sinais do Estio estão aí, é bom prevenir, difundir a mensagem: Portugal sem fogos depende de todos. Proteja a floresta. Denuncie os que atentam contra ela. Em Ponte de Lima ligue o 258900240. Grave no seu telemóvel.
Nunca será de mais reforçar as afirmações dos cartazes que proliferam por aí. Mas há nesta mensagem um pequeno pormenor daqueles que às vezes nos atraiçoam. Na minha opinião o apelo à denúncia não será o mais apropriado.
O que se pede é perfeitamente justo, mas as conotações que a palavra “denúncia” transporta tornam-na contraproducente. Talvez se encontrassem no léxico português uma palavra menos ligada à transmissão a outrem com poderes próprios da ocorrência de factos que se terão passado num ambiente que se presumia de confiança mútua.
Subjectivamente nada seria pois mais inapropriado para uma situação em que tenhamos a infeliz sorte de surpreender alguém a atear fogo. Não pode haver desculpas para aqueles que possam ter tais intenções. É bom que eles se consciencializem de que estamos seguramente dispostos a “denunciar” o seu comportamento, e esta será uma palavra forte e adequada ao efeito.
Mas se nos possa causar engulhos, esqueçamos as palavras e as suas subtilezas. Dêmos testemunho activo de uma situação socialmente lesiva, irresponsável, irracional. Não deixemos passar em branco, não ocultemos nada. Comuniquemos antes tudo o que nos parecer suficientemente capaz de gerar uma situação de catástrofe. E não tenhamos medo que nos chamem denunciantes ou outras coisas piores.

21 junho 2007

Apresentação do Programa e Cartaz das Feiras Novas

Independentemente de eventualmente podermos estar em desacordo com certas alterações ao programa ou podermos formular outras e justificadas considerações críticas as Feiras Novas não sofrem da nossa parte qualquer contestação na sua substância. Alias quem faz a verdadeira Festa é o Povo.

Programa:

Sexta-feira, 14
19,00 – Bandinha da Alegria
21,00 – Tuna Académica da Universidade de Coimbra
22,00 – Euro Canção
23,00 – Estudantuna e Spestuna da U.F.P. e Tesa e Tunesa da E.S.A.
00,30 – Fogo se Artifício
01,00 – Bandas de Música de Moreira do Lima e se Souto

Sábado, 15
08,00 – Alvorada
08,30 – Concurso Pecuário
08,30 – Zés Pereiras e Gaiteiros
09,00 – Bandas de Música de Ponte de Lima e de Melres
12,00 – Concentração de Zés Pereiras
15,00 – Corrida de Garranos
15,15 – Desfile de Fanfarras
16,00 – Cortejo Etnográfico
22,30 – Rusgas, Concertinas e Folclore
01,00 – Fogo se Artifício

Domingo, 16
08,00 – Salva de Morteiros
08,30 – Zés Pereiras e Gaiteiros Espanhóis
09,00 – Banda de Música de Tarouquela e Nova de Fermentelos
12,00 - Concentração de Zés Pereiras
15,00 – Desfile Taurófilo
16,30 – Tourada
21,00 – Festival Folclórico com dois palcos simultâneos
00,30 - Fogo de Artifício – Sessão espectacular

Segunda-Feira, 17
08,00 – Salva de morteiros
09,00 – Bandas de Música: S. Martinho da Gandra e Moreira do Lima
10,30 – Missa solene
16,30 – Procissão
20,30 – Grupo Santa Cruz – Música popular portuguesa
22,00 – Grupo Roconorte

Agora venha à festa e se não traz alegria vai ver que a leva daqui.

19 junho 2007

Não olhes para o que digo ao Trigueiro, olha para o que digo ao Mendes

No sentido de pôr um pouco de disciplina na questão da aplicação da justiça aos autarcas, o P.S. elaborou um projecto de lei que prevê a suspensão automática do seu mandato em caso de ser feita uma acusação que possa implicar um pena de prisão superior a três anos.
Não sendo os partidos donos dos mandatos autárquicos, tão só são senhores de propor pessoas para os assumir, também não cabe aos seus líderes determinar a sua perda quando os autarcas estão em funções.
O objectivo é que exemplos como o de Lisboa se não repitam com um Marques Mendes qualquer, politiqueiro do pior que nós temos, armado em justiceiro mor, a determinar quem está ou não em condições de continuar a exercer um mandato para que foi eleito.
Mas em Ponte de Lima também temos um justiceiro à nossa medida que peca por não exercer nenhum cargo na estrutura partidária social-democrata mas anda muito activo aproveitando talvez o facto de ser Presidente da Assembleia de Freguesia de Ponte de Lima e atirando francamente pedras a tudo que se mova, dentro e fora do seu partido.
Daniel Campelo foi constituído arguido, desconhecendo-se até se a acusação foi ou não confirmada após o período de instrução do processo. Os crimes de que é acusado, e que envolvem mais dois funcionários da autarquia, são denegação de justiça e prevaricação e a acusação foi formulada após a perca por parte da Câmara Municipal de uma acção que um particular lhe moveu e que ela perdeu em todas as instâncias, tendo que indemnizar aquele.
O Presidente da Câmara diz que, se agiu erradamente, a isso foi induzido pelos pareceres dos técnicos autárquicos, embora pareça a todos ser evidente que a Câmara terá utilizado meios mais expeditos do que aqueles que a lei lhe permitiria. Tanto assim que Daniel Campelo até invocou uma pretensa ingovernabilidade da Câmara se houvesse um cumprimento estrito da lei.
Há aqui um evidente julgamento político a fazer e esse é sobre a falta de rigor decisório, assente na falta ou no excessivo preciosismo, na falta ou excessivo facilitismo que nós vemos em muitas ocasiões. Podemos facilmente invocar a falta de equilíbrio e de bom senso que seria necessário manter para gerir situações complexas que a lei não está habilitada a configurar detalhadamente em todos os seus diferentes pormenores.
Mas é evidente que as relações mais problemáticas duma autarquia não são com os particulares mas sim com os empreiteiros e essas é que deveriam merecer das oposições maior empenho em que fossem mais transparentes e sérias e, porque não, merecer os comentários destes politiqueiros, mesmo que sejam tão só franco atiradores.
Se o João Carlos julga dar uma prova de independência ao estar a criticar tão veementemente o seu Chefe Mendes, só se pode tomar como uma posição pessoal, um conflito interno ao seu partido local.
A lei tem que ser clara e não poder ser dado aos caciques locais e nacionais o direito de se imiscuírem no exercício das funções autárquicas. Mas os tribunais devem ter esse direito e esses devem poder determinar a suspensão dos mandatos quando haja perigo da continuação de uma actuação delituosa.
Deixemos que sejam os tribunais a determinar se este caso é suficientemente grave, se a Câmara deve ser ressarcida dos prejuízos que teve, se os funcionários devem ser penalizados e se o Presidente da Câmara, como supremo avalista de um procedimento já reprovado ainda terá que sofrer penalizações que o inibam dos seus direitos cívicos.
Além de o não julgarmos antecipadamente e em local inapropriado não pretendemos uma antecipação de uma lei projectada mas de que se não definiram ainda os exactos contornos e as implicâncias que possa ter em cada caso específico.
Enfim este bloguista http://pontedelima.blogspot.com/ é contraditório: Queria condenar Campelo e salta em defesa dos coitados dos perseguidos autarcas. Condena Marques Mendes por perseguir autarcas e queria que Manuel Trigueiro retirasse a confiança institucional a Campelo. Este Senhor é um trapalhão que tropeça demasiado no tempo.

15 junho 2007

O papel dos interessados na solução da crise do comércio tradicional

(Continuação)
E que esperar dos principais interessados, os comerciantes? De certo muito, individualmente quando se trate de concorrer, associativamente quando de trate de convergir.
É irrealista esperar a diversificação dos horários dos serviços públicos, a constituição de fundos de apoio ao comércio ou a feitura de acordos globais sobre preços e variedades.
Será vantajoso apostar na inovação e diferenciação entre os comerciantes mas também em relação às grandes superfícies, na cortesia, na promoção global do Centro Histórico, no portal na Internet.
Caberá à Associação Empresarial de Ponte de Lima, curiosamente neste estudo não referida, e eventualmente a outras, suprir as lacunas aqui apontadas: O empreendorismo, o associativismo, a alteração de horários de abertura, a formação e rejuvenescimento, os estudos de viabilidade, as estratégias conjuntas de comunicação, a apresentação dos espaços comerciais, a aposta nos produtos autóctones.
Saliente-se que esta última aposta só será viável com a colaboração de outros sectores económicos, como a agricultura e a pecuária, sectores que vivem crises semelhantes, que estão em permanente evolução e que na região são por natureza avessos ao risco e à inovação. Têm demais os pés na, ou antes agarrados à, terra.
É verdade que o comércio não sairá deste clima depressivo sozinho. Mas haverá algum comércio que atingiu agora o seu máximo esplendor, como outro o atingiu no passado e está de momento em declínio. Deste, uns comerciantes pelo imobilismo, outros abatidos pela competição não sairão mais da crise, contentando-se com paliativos, até porque os filhos também já levaram outros rumos.
Também no comércio há heranças, segredos, sortes e outros factores aleatórios a pesar no seu sucesso. Como nós, todos se vangloriarão dos momentos de glória e todos se lamentarão quando o desânimo deles se apoderar. Cabe-nos neste caso, é nosso dever, dar o nosso apoio nestas ocasiões.
Um dos problemas é o conflito de interesses e efectivamente não se vêm os proprietários de imóveis comerciais preocupados com esta situação e com a sua, se não baixavam os preços de venda ou aluguer.
Sendo o comércio um fenómeno tipicamente urbano e carecendo o concelho de centros urbanos de pequena dimensão que justifiquem a instalação de alguns serviços e comércio diversificados a crise já há muito que se não nota na maioria do concelho porque simples e infelizmente já não tem a quem afligir. O comércio de aldeia sobrevive enquanto sobreviverem alguns velhotes que fazem desta actividade um complemento da reforma.
Direi mesmo que a maioria dos munícipes normalmente se está borrifando para quem vende desde que não os obriguem a entrar de fato e gravata nos estabelecimentos comerciais. Direi mesmo que a maioria é a favor das médias, grandes ou mistas superfícies porque dão emprego aos seus filhos, que o comércio tradicional já não dá, dão facilidades que aqui se reivindicam e bem para uma zona, mas que aqui custam ao erário público.
Além de mais a nossa estratégica posição já deveria ter sido aproveitada pelo comércio grossista e alguns operadores já se terão apercebido disso. Mas as visões estreitas já nos terão feito perder algumas muito boas oportunidades.
Não podemos ser contra as superfícies comerciais sejam de empresas distribuidoras, de particulares, associativas ou do tipo feira. Os limites artificiais à concorrência são atavismos prejudiciais e se temporariamente funcionam cá, não funcionam a nível regional ou nacional.
É de todo impossível obrigar as pessoas a comprar o que não querem, os comerciantes a vender o que não existe, o que não tem procura ou o que não dá lucro. È de todo impossível criar clientes ideais, configurar clientes, fossilizá-los, torná-los obedientes.
Possível, urgente, imprescindível é criar cursos ligados ao comércio e serviços, projectos inovadores e atitudes pedagógicas das forças policiais, último patamar da acção do Estado. Em suma a pedagogia falta-nos em todos os domínios desde a actividade particular, à actividade associativa, à actividade política e tão só à corrente actividade cívica.
Foto: O paraíso dos taradinhos

Propostas de solução da crise do comércio tradicional

(Continuação)
Se, quanto às causas da crise do comércio tradicional de Ponte de Lima, as nossas divergências não são muitas, quanto aos remédios propostos nesta reflexão há de tudo, desde placebos, a não digeríveis pelos sistemas administrativo e outros, a demasiado ambiciosos para serem aplicáveis, a bem intencionados mas impossíveis de elaborar com actores e meios e a alguns viáveis. È necessário ser positivo, elaborado e sintético.
O que se propõe que o Estado faça é no geral tão benévolo, sem controvérsia, que assinaríamos por baixo, não fora podermos ser considerados ingénuos ao propor algumas medidas improcedentes, inviáveis ou inoportunas. Projectos estruturantes, acesso ao crédito, sistemas de apoio e incentivos, horário de funcionamento das grandes superfícies, fundos de pensões, são no geral descriminações positivas, não facilmente aceites. De pleno só concordaríamos com o acabar com a concorrência desleal.
Esperaríamos também mais realismo nas treze medidas a propor à Câmara Municipal. As seis primeiras são de natureza política: Eleger o desenvolvimento económico, elaborar um plano estratégico, criar um pelouro, dinamizar projectos estruturantes e pólos industriais, articular políticas municipais e empresariais, que ainda por cima desconhecemos.
De duvidosa eficácia, impossíveis, discriminatórias, contraproducentes são outras tantas seis medidas: Impedir novas superfícies e pugnar pelo seu impedimento no território Valimar, impedir espaços comerciais no rés-do-chão, trazer grandes eventos desportivos, criar zonas e espaços especiais nos pólos industriais e diminuir genericamente taxas, tarifas e licenças.
Veríamos favoravelmente o abandono da política de construção de zonas comerciais para concessão que está a tornar a Câmara um “promotor turístico” em detrimento de outras vertentes.
É referida neste ponto uma medida de natureza psico-sociológica que se refere ao conselho de, em alternativa, fazer compras no comércio tradicional e outra de natureza empresarial no que se refere ao abrir espaços de referência.
Achamos que em relação à Câmara Municipal impor-se-ia que se esclarecesse se os jardins e o sarrabulho lhe chegam, se vai continuar a subestimar o alojamento, em que tipo de turismo está disposta a apostar, se abandonou de vez a aposta em pequenas centralidades a mais de cinco quilómetros do Centro.
Também são propostas vinte e uma medidas específicas para o Centro Histórico, das quais nove merecerão o nosso apoio imediato: Facilitar a acessibilidade e o estacionamento, a recuperação do parque habitacional em especial destinado a arrendamento, a requalificação da zona ribeirinha, a reorganização da feira, a animação do Centro Histórico, a implementação de regras protectoras do comércio “fixo” local. Quanto ao Albergue dos Peregrinos peca por inoportuno falar no que se encontra em construção.
Já nos parece não serem de apoiar coisas controversas como: As zonas de uma animação nocturna que não esporadicamente, o limianismo, cujas figuras, além de que algumas se possam confundir com figurões, não traz qualquer mais valia evidente ao comércio.
Somos contra: Levar os transportes públicos ao Centro Histórico, antes somos favoráveis a uma única entrada e saída e a um melhor local de inversão de marcha, o instalar parquímetros, antes devem ser incentivados os comerciantes a deixarem os seus próprios carros nos parques e não à porta dos estabelecimentos, só porque são os primeiros a chegar, ficando assim os clientes privados dos escassos lugares no Centro. Paradoxal, em face da antecedente, é a proposta de tornar livre o estacionamento nos parques subterrâneos existentes que, além do mais, é irrisório.
A preocupação com o mercado municipal, já transformado num imenso restaurante, poderia passar pela sua quase integral conversão. Também por discriminatória não seria de reclamar a implementação de benefícios especiais e não parece apropriada a disseminação de eventos por estes carecerem de dimensão e os espaços possíveis num Centro pequeno não serem assim tantos. São oito medidas de impacto controverso.
Podemos constatar que a promoção de Ponte de Lima e do seu comércio nem sempre serão convergentes. A tradição, o património e o ambiente podem ser vendáveis mas para que o comércio em geral beneficie é necessário ir mais além dos jardins, dos solares e do sarrabulho. Esta proposta parece-nos redutora em função do objectivo a atingir.
Parece-nos ser de natureza empresarial e por isso dever caber ao próprio comércio o aferir os ramos comerciais e se for caso disso especializá-lo para o turismo. Caberia a todos definir “que turismo?” para adequar estratégias. Quanto ao artesanato já haverá pouco a inventar.
(Continua)

14 junho 2007

Reflexão sobre comércio tradicional em Terras de Ponte

A Assembleia de Freguesia de Ponte de Lima criou um grupo de reflexão para constatar aquilo que é óbvio: O comércio tradicional está, por efeito de múltiplos factores, numa crise profunda. Essencialmente porque a dinâmica comercial não acompanhou outras dinâmicas, como a da construção de casas, que ainda por cima tem um efeito nefasto ao promover a desertificação do Centro Histórico, e a construção de jardins, que desvia as atenções dos habitantes e das televisões.
Maior concentração da população à volta do Centro deveria significar o seu maior desenvolvimento mas isso só seria possível se o crescimento do aglomerado urbano tivesse sido planeado em termos de integração e complementaridade. Por sua vez os jardins servem de atractivo passageiro para pessoas que não vêm a Ponte de Lima com o intuito de comerciar.
No entanto no Centro Histórico, já não falo nos residentes mas naqueles que regularmente o frequentam, parece que todos esperam que as dinâmicas se invertam miraculosamente. A tendência é para piorar como bem se constata, pela diversidade de factores apontados e outros, de origem local e nacional, de comportamentos e preferências, de organização e de meios, de imobilismo e de resignação.
Neste sentido esta reflexão tem a sua razão de ser porque, se a tarefa é ciclópica, é necessário despertar pessoas e instituições, detectar constrangimentos, avaliar estrangulamentos, encontrar soluções. Convenhamos porém que esta reflexão não apresenta os melhores, os mais concretizáveis, equitativos e legais instrumentos.
Há um largo espectro de causas que foram identificadas, não suficientemente clarificadas quanto à origem, influência e irreversibilidade. Algumas até já serão intocáveis, inultrapassáveis, outras ainda podem ser tidas como condicionantes e inflectíveis, outras ainda até podem ser vistas como oportunidade para outros negócios. Mas acima de tudo algumas podem ter aqui um efeito nefasto e noutros aspectos benéfico e compensador. O mal de uns, não raro, é o bem de muitos outros.
Assim se definiria aquilo que é humanamente possível exigir aos poderes exteriores, ao poder local, às associações e aos parceiros comerciais, sendo que a estes cabe mais receberem preparação para o negócio mas talvez não conselhos para promoverem este ou aqueloutro tipo de comércio. A oportunidade, a iniciativa, o risco são da natureza de qualquer empreendimento.
O documento identifica cinco causas gerais: Globalização, crise nacional, endividamento familiar, mudança de hábito de consumo e atractividade das grandes superfícies. Causas que, pela sua natureza, têm um tempo desconhecido de gestação, de vida e morte e a que só nos resta adaptarmo-nos (esclareça-se que nos resignamos só para este fim).
Outra causa tem a ver com a política governamental: O alojamento de serviços públicos vem sendo feito ao inverso dos bancos e por falta de edifícios públicos no Centro, com a construção ou aluguer na periferia. A última causa referente à reduzida sensibilidade para a qualificação só pode ser vista como do âmbito do movimento associativo.
Restam onze causas atribuíveis, em graus diversos, ao poder local: Autorização de instalação de superfícies comerciais, política urbanística que permite comércio nas novas habitações, que cria novas centralidades e dificulta o acesso privado e de transportes públicos, o estacionamento, a degradação dos prédios, as rendas elevadas, a desertificação do Centro. Salienta-se o falhanço da reestruturação do Mercado e da animação.
(Continua)

12 junho 2007

O Tribunal dos sonhos

Parti com um mais pobre do que eu. Esta expectativa de ter que “defender” uma causa abominável fiz-me renunciar a tudo: Ao futuro, a uma profissão, a uma companhia. Imponham-me uma arma, um alvo, uma vítima. Mas não tinha que renegar o amigo.
Restava-me ver em mim alguém cuja fraqueza é imanente mas que será suplantada quando conseguir espetar nos outros o olhar do mais puro ódio que me anima contra a vilania e a tirania. Esse sentimento corrosivo que nos faz vencer o medo, avançar.
Restava-me o apoio de alguém que não era mais que a minha sombra, a imagem mais esbatida ainda de um ser sem força, que mais não exige de si do que simplesmente sobreviver sem ser subserviente.
Não se imponha a Salazar, nem a Caetano ou a Américo Tomaz que provassem que estavam a defender a melhor solução para uma causa que envolvia a dignidade de um País. Eram múmias arrogantes, soberbas, de olhos fechados ao humanismo e à humildade.
Ou seriam só seres mansos sobre os quais apenas uns mal intencionados lançavam a suspeição de que seriam acompanhados de demónios terríficos para aterrorizar incautos?
As múmias guardavam bem essa sua imagem que lhes era tão familiar como outra qualquer, uma negra sombra de que a maioria dos outros só conheceriam os contornos, mas de que se procurava que ignorassem a opacidade. Eram maus sem terem é certo especial prazer na maldade.
Marcaram o seu tempo, escreveram o seu nome na história com o sangue alheio, ainda hoje são lembrados por frequentarem Academias em que só aprendiam a defender o passado, copiado a papel químico através de uma visão arquitectado com a grandiloquência de um espelho convexo.
Transmitiam uma ideia de sábios, capazes de todas as prestidigitações e de inverter o curso da história. Quanto mais decrépitos, mais respeito pareciam infundir naqueles que os viam como estátuas firmes perante si, simples transeuntes que se pensavam ser neste mundo com donos certos.
Transmitiam alguma da sua aura com um discurso empastelado e molengo, que se incrustava na ignorância de quem sabe que nada se consegue sem sacrifício e é preciso amenizá-lo. E a primeira coisa que ele atinge é a carne, só através desta chegará ao espírito.
A minha companhia era só eu e outro ainda mais pobre do que eu. A quem eu dei o sonho de que não mais seria necessário sonhar porque tudo seria mais claro que a luz. Eu não precisava mais desse sonho, da luz estática e brilhante, que o futuro haveria que se enfrentar de peito feito à ventania.
Nunca trocaria o sonho da luz fixa pelo da luz errante, mas é este que prolifera. É o grande sonho da multiplicação dos sonhos. Sonho próprio dos seres transfigurados, mutantes, que se não sentem vivos se não tiverem em quem aplicar o seu ódio, seja dirigido aos indefesos colonizados, seja aos que se viriam a opor ao seu novo sonho de dirigir o mundo baseados em falácias.
Mas os sonhos andam por aí, tantas são as falsas luzes, herdam-se, sem que sequer se possa dizer que têm donos, que alguém se responsabiliza por eles e que a História tenha hipóteses de os julgar. Há paternidades atribuídas aos sonhos que não são aceitáveis, não têm qualquer razão de existir. E não há julgamentos sem réus.
Há boas e seguras razões para que não só a realidade, mas também os sonhos, em especial esses vagos e vagabundos, sejam levados a juízo, sem arguidos, sem acusados e sem que a pena tenha que ser aceite por alguém.

07 junho 2007

Como, sem o sabermos, chegamos aqui?

Há uns séculos onde se podia encontrar a nossa riqueza que não fosse na agricultura? Com os descobrimentos e o comércio marítimo houve desenvolvimento noutros sectores mas também o agrícola beneficiou.
Introduziram-se plantas trazidas da América que se adaptaram bem ao País. O milho de maçaroca, a batata, a abóbora e o feijão americano tornaram-se culturas normais, revolucionando a agricultura, aumentando a produção, mudando hábitos e práticas agrícolas. A agricultura manteve assim o seu papel destacado na economia nacional.
Com os descobrimentos beneficiou principalmente a realeza e os comerciantes e os que dependiam das suas actividades. A não ser em relação àquela inovação nos produtos, a parte que coube para o progresso do interior foi diminuta. Tudo se gastou em sumptuosidades e no litoral.
No entanto o interior sempre foi tido por rico, era a terra que dava tudo, dizia-se, apesar das suas populações viverem permanentemente em estado de necessidade e também a terem que emigrar periodicamente.
Quando havia crises, é natural que quem mais as sentia fossem as populações das cidades, mas logo o Estado tratava de colectar os “excedentes”, deixando aos agricultores o mínimo para não morrerem de fome, que as couves os iam aguentando.
Toda a actividade económica do interior se ficou sempre pela agricultura e pelo que lhe era complementar, os serviços que lhe eram prestados e o tratamento e transformação primária dos seus poucos produtos, como a madeira, o vinho, o azeite, o linho e a lã. A actividade mineira também chegou a ser significativa.
Tudo era drenado para a beira-mar, para as povoações costeiras, mesmo com privações dos residentes. Só num aspecto o interior nunca se cansou ou fartou: o de fornecer gente. Também aí estava uma riqueza.
As gentes das capitais com isso escusavam de estar preocupadas. Se era necessária gente para as naus, soldados para combater, raparigas para servir, ao interior se recorria. Assim foi até há poucos anos.
O interior nunca foi um motivo de reflexão. Lá vivia-se bem, não faltavam os passarinhos, o bom ar, o bom vinho, o pão na maceira, o porco na salgadeira e no fumeiro, o cheiro das flores silvestres.
Havia o ouro escondido algures numa arca, fosse ela de carvalho ou de pinho. Afinal a riqueza diluiu-se, os herdeiros tiraram cursos e partiram, levaram os restos para a cidade, o ouro foi ajudar a pagar a casa, alguma boiça que por lá restou é para ser todos os anos pasto das chamas.
Foi-se o ouro, ficou a paisagem, paradisíaca, diz-se, que sempre se arrastou connosco a saudade de um dia lá voltar. Mas longe vão os tempos em que era garantido que alguém ficaria, a família nunca ia toda, e os que estavam na terra tratavam de tudo e tinham-nos agarrados ao lugar
A paisagem está deserta nuns sítios, e paradoxalmente impregnada de casas por outros lados, Constrói-se de todo o tipo, renegam-se as próprias raízes, o habitat, os modos de vida, os relacionamentos. Dispersa-se tudo, nem se respeitam aldeias, nem tradições, o que interessa é ter um lugar reservado, isolado, longe dos olhares indiscretos. Não há povoamento, há ocupação.
O que era rico tornou-se pobre num ápice, quase sem darmos por ela. Quando trabalhamos, imaginamos o campo como um jardim, ambicionamos estar lá a descansar. Mas quando enfim para lá poderíamos ir verificamos a falta de sustentabilidade, o abandono e renegamos as nossas fontes. E no entanto tudo se passou vagarosamente.
Os padres ainda se passeiam pelos Centros de Dia a fazer irradiar o seu poder sobre almas desamparadas, que não é de agora, sempre precisaram da intermediação doutrem. Tudo vive mas tudo morre lentamente, com uma estranha impressão de vagar, para quem nunca teve pressa.
Que vamos fazer do interior? Depois de ter perdido a sua importância na economia nacional, como há-de recuperar, agora diversificando as actividades. A agricultura passou de actividade principal para actividade residual, cada vez menos fornecedora de emprego.
Um Centro de Dia ou um Centro de Vida? Definir polaridades, acabar com bairrismos bacocos, centralizar a Vida, Nova Vida em Centros Urbanos pré-determinados. Aplicar bem o dinheiro. O desenvolvimento em Portugal nunca foi obra do acaso, a expressão cega de forças incontroladas.
A palha protege-se aconchegada numa moreia, devidamente organizada e defendida, não no meio do campo onde rapidamente se deteriora. O campo tão depressa está um jardim como está uma selva. Um jardim custa a criar, uma selva desenvolve-se rápido.
Pensar o interior não é aplicar-lhe chavões, agarrarmo-nos a ideias feitas, a arquétipos de um outro tempo, a imagens de uma decadência sadia, comparada com a decadência das cidades industriais, mas decadência.
Pensar o interior não é só abrir auto-estradas, definir rotas turísticas, virar museológico um ambiente que exigiria outra economia, outros parceiros, outros modos de vida, outras exigências.
Os malditos índices roubam-nos a paz, o sossego, Aplicamos ao campo, a este campo que nós temos, a este interior descapitalizado e infeliz, vítima secular de todas as soberbas e ganâncias dos predadores, só sabemos aplicar-lhe estes índices de outras paragens e começarmos a exigir:
Queremos elefantes brancos e pretos, mimetismos do que existe noutros sítios, que são exemplos do seu progresso mas aqui nada dizem. Não olhamos para o fundo, o essencial, o lastro, a base à qual uma política sempre igual tem reduzido o Portugal mais profundo. Portugal é um declive para o mar.
Até já não chegam projectos, nem dinheiro, é preciso gente. Sem gente nada de útil cá vem ter, só se fazem sumptuosidades para atrair pássaros de “arribação”.

06 junho 2007

A Vaca das Cordas, brincadeira ou crueldade?

A Vaca das Cordas saiu intrépida, decidida a vender caro o papel que lhe atribuem perante a ousadia de uns tantos que, fiados nas cordas que a prendem, se vão aproximando e arrenegando para ela a eles se fazer.
Jogo selvagem, sinal da brutalidade, resquício de barbaridade que impregna o nosso passado? Nada disso. A nossa agressividade sempre se manifestou mais contra os nossos próprios semelhantes do que sobre os indefesos animais.
Claro que muitos são mortos para servir de alimento, mas nunca com o acompanhamento da crueldade que faz de nós os maiores carrascos de nós mesmos. Pelo contrário o seu sacrifício foi muitas vezes entendido como necessário para aplacar as divindades que se veneravam.
A morte dos animais raramente serviu como castigo, a não ser para aqueles que consideramos como parasitas prejudiciais ao equilíbrio ecológico da terra. Também o uso dos animais para divertimento é um fenómeno esporádico, que não tem qualquer natureza persecutória.
A Vaca das Cordas submete-se involuntariamente a actos que estão de tal modo longe das sevícias, dos horrores da inquisição, da escravatura, do holocausto, de muitas guerras de África e Ásia, até mesmo do circo romano, que acho que ela tudo nos perdoaria se não lhe déssemos logo o cruel destino de ser transformada em bifes (suculentos dizem).

03 junho 2007

Onde andará a histeria de que fala este mentor ideológico do associativismo limiano?

O Senhor http://pontedelima.blogspot.com/ não inventou o associativismo limiano mas parece querer ser o seu mentor ideológico. Pode-se dizer que há aí uma febre (histeria não) Social-Democrata de ocupar tudo o que são lugares de direcção em associações já com tradições de certa relevância e de que querem reivindicar a herança.
Dir-me-ão que é gente altruísta, de bom coração, cheia de vontade de contribuir para o bem do próximo. Duvido. Mas se me disserem que estão a ver a questão pelo aspecto prático de subtrair ao Estado funções que se lhe atribuem, naquela habitual dependência de que muitos de nós somos defensores egoístas, então estou de acordo e louvo.
Mas a modéstia manda que se não façam auto-elogios nem elogios recíprocos para que se obtenha relevo naquilo que tem de ser a sociedade a reconhecer, embora se não esperem medalhas. Já também não merecerá a minha aprovação se este movimento corresponder a uma moda ou a alguma directiva partidária.
Há sempre boa gente pronta a fazer estes sacrifícios para ganhar momentânea visibilidade ou notoriedade social, a mando ou não de lideranças políticas. Já passou pelo associativismo limiano muita e boa gente que o usou como trampolim para voos mais altos, outros que caíram do trampolim sem terem chegado a lado nenhum e de que nunca mais ninguém ouviu falar.
Há aqui um princípio que deve ser respeitado e que eu vejo faltar a pretensiosos e mal-intencionados: Todo o trabalho associativo, tudo aquilo que se possa fazer pelos outros tem que ser encarado em primeiro lugar pela satisfação que isso possa dar ao próprio, maugrado todos gostarmos de algum reconhecimento social.
Quando o social se torna o “leitmotiv” de toda a nossa acção, quando temos um frete às costas e isso nos não dá prazer, então é melhor abandonar o barco, esquecer a vaidade e a projecção que nos dá. Ninguém é insubstituível e haverá outros mais dispostos a ocupar o lugar em causa.
Mas também há imensa gente que se arrasta penosamente por listas e mais listas de candidaturas falhadas e outras melhores sucedidas. E há ainda direcções associativas que assentam só nas “pessoas do costume” e de que alguns adesivos se não coíbem de usufruir dos benefícios.
Nós sabemos do dinheiro que corre em associações empresariais, sindicais e coisas semelhantes, das formas rocambolescas como se gasta dinheiro público em viagens e benesses imensas. Se são outras realidades, e não podemos meter tudo no mesmo saco, estamos ainda a falar de associativismo, que tem aqui os seus tentáculos.
Na generalidade do associativismo limiano o pecado ficará tão só pela presunção e pela água benta, não há aqui campo para suspeições. Pecados maiores são daqueles que querem pescar em águas turvas, em domínios não clarificados, em áreas cujo melindre deveria levar a alguma contenção verbal.
Estes pescadores não aceitam que os interesses maiores de uma Sociedade se não harmonizem com algum passado e certos aspectos do modo de agir de uma associação, que não pode estar imune a críticas. Se a Sociedade não é o somatório de pessoas, de associações, mas tem uma natureza superior que não se compadece com alguns interesses particulares.
Todos temos os nossos amores e desamores, mas não devemos traçar uma linha de demarcação rígida entre uns e outros. Na sua relatividade devemos encará-los sem fundamentalismos, sem oportunismos, sem vaidades ou arrogâncias. Quem, como este Senhor, pretende ser o intérprete dos interesses da Sociedade não pode falar de histeria sem dizer de onde ela vem.
Senhor João Carlos dê com lealdade o seu válido contributo para a vontade colectiva.

01 junho 2007

Respostas sem floreados a regionalistas apressados

Andava eu floreando quando repentinamente sou interpelado: Ora diz lá se estás a favor ou contra a regionalização, que te quero pôr numa prateleira, classificar-te, rotular-te, se tiveres a isso direito, figurar num catálogo.
Não será assim tanto, presumo que a interrogação seja verdadeiramente académica e não política, porque politicamente relegá-la-ia para outro momento, o das decisões. Já diferente é ser a favor de que se dêem passos firmes e seguros para que tal decisão seja antecipada quanto possível.
Porque esse momento deve surgir, devemos votar explicitamente esta questão, com mapa, legislação base e mais tarde para a direcção política da região que nos couber em sorte. Porque também as tentações de cortar o País a régua e esquadro continuam a ser muitas.
Não chega passar carta branca a qualquer partido, ao meu, ao teu e ao dele, para serem muitos, que querem ganhar votos nas eleições gerais por incluírem ou excluírem esta questão de entre os seus compromissos. Também os partidos devem ser influenciados para assumir convictamente esta causa.
Mas esta questão tem que ser desligada de quaisquer outras, ser discutida em separado. Senão também não fazia sentido estarmos aqui a trocar argumentos neste espaço específico. O que não faz sentido é a tentativa de tudo reduzir ao momento, a achar culpados ou não no último ano ou sequer década, a achar apoios superficiais e com algum ressaibo.
A pressa não é boa conselheira, embora o vagar exaspere e possa ser anestesiante. Manter viva a chama cabe a quem tem convicções certas. Mas se há quem as possa perder, podemos estar certos que haverá mais quem as possa vir a adquirir. E se mais pessoas apoiarem a regionalização mais estarão aptas a dar o seu contributo e seguir a sua prática.
Para mim não há uma clara resposta, sim ou não, que sirva a todos: Aos convencidos, aos que estão em vias de o ser, àqueles que nunca se deixarão convencer e àqueles cujas referências os farão tender para um lado ou outro mas de preferência à última hora. Estou aqui porque espero não ser esta a minha e as referências procuro-as, não as bebi com o leite “Nestum”.
O que chateará alguns é colocarmos uma grelha de questões cuja resposta definirá o sentido da opção a tomar, em última instância do voto. Mesmo sem sermos exaustivos lá vão as primeiras perguntas e as respostas:
Estás disposto a delegar nos partidos políticos a abordagem, discussão e votação na Assembleia da Republica da eventual criação das regiões? Não. É curioso que quem menos acredita nestes partidos queira dar-lhes este poder.
És a favor de que a regionalização possa ter uma legitimidade acrescida por força do voto universal e directo? Sim. Doutra forma será sempre muito mais contestado e posto permanentemente em causa.
És a favor de órgãos regionais que se constituam por delegação dos municípios? Não. Esta dependência seria imprudente em razão da necessária operacionalidade e capacidade de decisão.
És a favor de órgãos regionais eleitos directamente pela população com poder delegado por esta? Sim. É a população que agora delega no Estado Central que o passa a fazer em órgãos independentes dele?
Queres saber as principais implicações que a regionalização terá na política nacional, ao nível da conflitualidade, da influência recíproca, da colaboração institucional e da autonomia de decisão? Sim. È necessário que se saiba até onde se pode ir e aquilo a que se não pode renunciar.
As expectativas nacionais suplantarão sempre as expectativas regionais? Sim. E é necessário que os poderes regionais não se escudem nos poderes nacionais para justificarem tudo, inclusive uma eventual inoperância.
A defesa da regionalização pode assentar numa barragem anti-governamental? Não. As políticas nacionais podem ser mais ou menos gravosas para cada região, mas fazer disso uma ideia feita é perverso.
Achas que os vícios do funcionalismo público, incluindo o comissariado político que vai continuar a existir, transitarão do plano nacional para o regional? Sim. O imobilismo é a principal das características negativas do funcionalismo. Há imensa gente sem fazer nenhum, a não ser que fazer humor pelos corredores do poder seja trabalhar.
Achas que o Estado está em condições de “deixar” que os órgãos regionais criem estruturas inovadoras de forma a não herdar vícios? Não. Nem o Estado pode despender dinheiro com isso, nem quem assumir o poder regional terá ideias muito diferentes do que está nacionalmente instituído.
Em relação ao interior não continuará o deserto de ideias, o deixa andar nacional? Sim. O peso relativo que o interior terá em cada uma das regiões pode dar-lhe alguma importância, mas a forma como presumivelmente se estruturarão as regiões não deixa antever diferenças significativas.
O interior continuará a ser menosprezado, contemplado com umas obras de fachada para turista de terceira idade, aquele que não pode ir para as Caraíbas, ver? Sim. Os próprios Municípios só querem ter o que os outros têm e, desde que não fiquem para trás em relação ao vizinho, tudo bem. Têm pouca largueza de vistas.
Há questões étnicas capazes de serem arregimentadas para valorizar a regionalização? Não. A unidade nacional é evidente em muitos aspectos. Mas haverá motivos de base cultural que podem ser contestáveis.

Deixem-me florear, há sins que são nãos e vice-versa, acredito na vossa grelha mental, enquanto outros só malham no ceguinho.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
O mais perfeito retrato da solidão humana