15 junho 2007

O papel dos interessados na solução da crise do comércio tradicional

(Continuação)
E que esperar dos principais interessados, os comerciantes? De certo muito, individualmente quando se trate de concorrer, associativamente quando de trate de convergir.
É irrealista esperar a diversificação dos horários dos serviços públicos, a constituição de fundos de apoio ao comércio ou a feitura de acordos globais sobre preços e variedades.
Será vantajoso apostar na inovação e diferenciação entre os comerciantes mas também em relação às grandes superfícies, na cortesia, na promoção global do Centro Histórico, no portal na Internet.
Caberá à Associação Empresarial de Ponte de Lima, curiosamente neste estudo não referida, e eventualmente a outras, suprir as lacunas aqui apontadas: O empreendorismo, o associativismo, a alteração de horários de abertura, a formação e rejuvenescimento, os estudos de viabilidade, as estratégias conjuntas de comunicação, a apresentação dos espaços comerciais, a aposta nos produtos autóctones.
Saliente-se que esta última aposta só será viável com a colaboração de outros sectores económicos, como a agricultura e a pecuária, sectores que vivem crises semelhantes, que estão em permanente evolução e que na região são por natureza avessos ao risco e à inovação. Têm demais os pés na, ou antes agarrados à, terra.
É verdade que o comércio não sairá deste clima depressivo sozinho. Mas haverá algum comércio que atingiu agora o seu máximo esplendor, como outro o atingiu no passado e está de momento em declínio. Deste, uns comerciantes pelo imobilismo, outros abatidos pela competição não sairão mais da crise, contentando-se com paliativos, até porque os filhos também já levaram outros rumos.
Também no comércio há heranças, segredos, sortes e outros factores aleatórios a pesar no seu sucesso. Como nós, todos se vangloriarão dos momentos de glória e todos se lamentarão quando o desânimo deles se apoderar. Cabe-nos neste caso, é nosso dever, dar o nosso apoio nestas ocasiões.
Um dos problemas é o conflito de interesses e efectivamente não se vêm os proprietários de imóveis comerciais preocupados com esta situação e com a sua, se não baixavam os preços de venda ou aluguer.
Sendo o comércio um fenómeno tipicamente urbano e carecendo o concelho de centros urbanos de pequena dimensão que justifiquem a instalação de alguns serviços e comércio diversificados a crise já há muito que se não nota na maioria do concelho porque simples e infelizmente já não tem a quem afligir. O comércio de aldeia sobrevive enquanto sobreviverem alguns velhotes que fazem desta actividade um complemento da reforma.
Direi mesmo que a maioria dos munícipes normalmente se está borrifando para quem vende desde que não os obriguem a entrar de fato e gravata nos estabelecimentos comerciais. Direi mesmo que a maioria é a favor das médias, grandes ou mistas superfícies porque dão emprego aos seus filhos, que o comércio tradicional já não dá, dão facilidades que aqui se reivindicam e bem para uma zona, mas que aqui custam ao erário público.
Além de mais a nossa estratégica posição já deveria ter sido aproveitada pelo comércio grossista e alguns operadores já se terão apercebido disso. Mas as visões estreitas já nos terão feito perder algumas muito boas oportunidades.
Não podemos ser contra as superfícies comerciais sejam de empresas distribuidoras, de particulares, associativas ou do tipo feira. Os limites artificiais à concorrência são atavismos prejudiciais e se temporariamente funcionam cá, não funcionam a nível regional ou nacional.
É de todo impossível obrigar as pessoas a comprar o que não querem, os comerciantes a vender o que não existe, o que não tem procura ou o que não dá lucro. È de todo impossível criar clientes ideais, configurar clientes, fossilizá-los, torná-los obedientes.
Possível, urgente, imprescindível é criar cursos ligados ao comércio e serviços, projectos inovadores e atitudes pedagógicas das forças policiais, último patamar da acção do Estado. Em suma a pedagogia falta-nos em todos os domínios desde a actividade particular, à actividade associativa, à actividade política e tão só à corrente actividade cívica.
Foto: O paraíso dos taradinhos

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Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana