13 julho 2008

As razões do nosso esquerdismo (38)

Por altura do 25 de Abril de 1974 a estrutura social portuguesa assentava essencialmente em dois padrões distintos o que levou a duas atitudes perfeitamente contraditórias da população. Cada um desses grupos sociais vivia na ignorância mútua e estava convencido da justeza das suas opções políticas, face ao passado de cada um.
No Sul rural as tendências comunistas eram fortes devido à herança vinda já dos tempos da reconquista. O Alentejo tinha sido entregue às ordens religiosas militares, depois vendido pelo Estado à burguesia lisboeta no século dezanove, mantendo sempre a mesma estrutura latifundiária. Às populações locais estava vedado o acesso à propriedade com tal dimensão.
No Sul industrial, mesmo que constituído maioritariamente por gente do Norte, havia uma grande proletarização. Se muitos daqueles que eram provenientes do Norte ainda possuíam algumas parcelas rurais nas terras de origem, estas já não constituíam qualquer referência para si, o seu universo de referências já estava desvinculado desse tipo de propriedade.
No Norte praticamente tudo continuava a ser rural. Essa ruralidade era tido por natural e quase invadia o próprio espaço das cidades. A propriedade rural estava muito distribuída mesmo que houvessem diferenças significativas. No entanto a propriedade maior não suscitava desejos de partilha. Os pequenos proprietários eram demasiados para que um número tão limitado de propriedades maiores pudesse suscitar qualquer movimento de apropriação.
No Norte, por pouco que cada um tivesse, cada qual defendia o seu. Não havia a riqueza ostensiva do Sul. Os ricos eram somente os emigrantes regressados, muitos agricultores que viviam em condições tão deficientes como os seus caseiros, alguns citadinos que tinham conseguido capitalizar o suficiente para comprar antigos conventos e casas senhoriais.
Havia no Sul uma abertura à colectivização que no Norte não tinha qualquer enraizamento.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana