02 julho 2008

As razões do nosso esquerdismo (27)

No 25 de Abril havia um Partido Socialista, filho recente da social-democracia europeia e o Partido Comunista, herdeiro do maximalismo português domesticado por Álvaro Cunhal, que para isso utilizou todos os meios que estavam ao seu alcance.
O PS ainda não tinha qualquer implantação e é duvidoso que alguma vez a viesse a conseguir se não ocorresse o 25 de Abril. O PC tinha uma implantação desigual, residual nuns sítios, até demasiado ostensiva noutros. Na área universitária, onde tinha velhas raízes, vivia o drama da não coincidência da teoria operária com as origens burguesas da grande maioria.
Este facto levou à formação de vários grupos de interpretação da teoria, normalmente tendo por base as diferentes leituras importadas, mas que também cá se foram subdividindo em ramos de difícil diferenciação para quem fosse estranho ao meio. O clima era mais de suspeita do que de revolução.
Estes grupos perturbavam uma acção mais sólida do PC e excediam facilmente a sua “tolerância”. Este haveria que ter uma penetração fácil e rápida em meios operários típicos localizados nas cinturas industriais, mas nem a evidência dessa força e dessa organização conseguiu derrotar grupos, grupinhos e grupelhos que proliferavam no meio universitário.
Destes, por terem conseguido alguma implantação em meios operários mais politizados e não terem sofrido o desgaste do PC, sobreviveram a UDP e pouco mais. Será no entanto a LCI a fornecer duas décadas depois o chefe incondicional, o sacerdote supremo dessa seita neo-religiosa que é o Bloco de Esquerda.
A amálgama de valores ecologistas, libertários e de um discurso duro, sentencial, condenatório e inapelável tem dado a este grupo uma projecção desproporcionada. A direita tem ajudado sobremaneira com a sua linguagem igualmente justicialista. No seu afã de obter da população sentenças rápidas só tem conseguido alargar o espaço à esquerda e não à direita do PS, como seria seu propósito se quisesse crescer. O esquerdismo sai a ganhar.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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