05 julho 2008

As razões do nosso esquerdismo (30)

A posição ambígua de Portugal durante a segunda guerra mundial, com uma inflexão final a favor dos países democráticos do ocidente, em particular da Inglaterra e dos Estados Unidos da América, contribuiu para que o regime de Salazar se aguentasse após o seu fim.
Este pequeno país não representou qualquer perigo para os maiores e esses tinham bem mais com que se preocupar no seu plano interno e na definição dos campos geo-estratégicos que se começaram a desenhar na Europa, sem grandes hipóteses de intervenção no campo alheio.
Se ninguém tinha força para impor um modelo democrático na Europa de Leste, ninguém se preocupava em impor esse modelo a Portugal e de modo semelhante à Espanha. Seja por um primeiro deixar andar porque seria caso para resolver com alguma facilidade no momento mais oportuno, seja pelo acentuar da guerra-fria o certo é que o salazarismo subsistiu.
As diferenças entre Portugal e a Europa foram porém acentuando-se, levando o Bispo do Porto a escrever em 1957 que tínhamos o “exclusivo privilégio português do mendigo, do pé-descalço, do maltrapilho, do farrapo; nem sequer o nosso triste apanágio das mais altas médias de subalimentados, de crianças enxovalhadas e exangues e de rostos pálidos (de fome de vício?).”
Em 1960 Portugal entrou na criação da EFTA pela mão inglesa. Foi a oportunidade que o regime aproveitou para um desenvolvimento económico e uma internacionalização da economia que a guerra colonial e a emigração clandestina vieram ajudar como descompressores da tensão social que se havia acumulado no quinquénio anterior.
A política não acompanhou a economia, de tal modo que a partir de fins da década de sessenta é a economia que começa a fazer as suas exigências políticas, o que também vai coincidir com o afastamento por doença de Salazar. A brigada do reumático nunca haveria porém de ceder senão pela força, com a passagem da maioria militar para o lado reformista.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana