08 julho 2008

As razões do nosso esquerdismo (33)

O PREC, de 25 de Abril de 1974 a 25 de Novembro de 1975, é um período muito característico, muito diferente de outras situações aparentemente semelhantes, porque se desenrolou uma luta pelo poder muito para além de uma luta política e em simultâneo um processo de criação e estruturação das forças políticas que a promoviam. Não havia tempo a perder.
Anteriormente era difícil sustentar qualquer imagem meritória se não se estivesse ao lado do governo. Usavam-se conceitos morais para controlar o comportamento dos outros, mesmo que fosse evidente que eles se não aplicassem aos próprios, cobertos normalmente por um véu de respeitabilidade. Esta desigualdade desagradava a qualquer um.
Os políticos que surgiram no 25 de Abril estavam no geral com uma imagem distorcida, houve quem os quisesse caracterizar somente pelos anos que tinham passado na cadeia. Com o tempo foi possível “recuperar” muita gente, arranjando-se também facilmente desculpas para uma colaboração, que era mais ou menos relativizada conforme o interesse da força interessada.
Foi um processo de lavagem de roupa suja em que nem toda a roupa foi lavada. Ministros de Salazar eram reabilitados porque tinham tentado furar o isolamento do regime, soldados eram condenados porque não tinham aceitado missões humilhantes para si. Mas no geral era tempo perdido querer demonstrar a iniquidade presente nestes julgamentos sumários.
Não era decerto tarefa fácil integrar militantes em organizações em que os novos eram em muito maior número que os velhos. Os partidos criados de raiz tiveram problemas ainda mais complexos que os outros. Por exemplo Sá Carneiro, que criou o PPD para dar corpo às suas ideias e lhe dar possibilidades de intervenção na actividade política, ver-se-ia com imensos problema para segurar e recuperar o leme do seu partido.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana