O medo tem muitas caras e o poeta devia saber disso. Ele ter-lhe-á conhecido uma antes do 25 de Abril perante a qual não soçobrou, honra lhe seja. Outros terão conhecido outras, por aí mais tenebrosas e não pestanejaram, honra lhes seja também. Mas é após o 25 de Abril que o poeta tanto se tem aterrorizado com o medo que já ninguém se deixa assustar quando resolve apelar ao estado de alerta.
Se o poeta teve a sensação de que nem sempre convém dizer o que se pensa não terá sido decerto a primeira vez desde o 25 de Abril. Algumas vezes terá calado por medo, outras por motivos menos louváveis, mas com certeza que já teve ocasião de ser leal com alguém, que subserviente não me parece. Com o seu busto altivo haverá lá medo que passe!
Como poeta até deve estar bem habituado a isso, qual fingidor que manobra o medo como bem lhe apetece. Ainda acresce que hoje o poeta não precisa de ser leal a ninguém na sua postura de auto marginalizado do sistema partidário. O poeta já não é leal, nem conveniente, mas caricato.
Como não existe uma cultura de liberdade individual, o que se reconhece ser verdadeiro, cá está ele para servir de exemplo a quem o queira seguir. Se não tem por que se queixar, já quanto à sua contribuição para essa liberdade, que não para a colectiva, não tem sido brilhante. Ocasiões não lhe faltaram para intervir na prática mas quando o fez só borrou as mãos e a escrita. Jornais fechou ele, mas nessa altura o indivíduo ainda não contava.
O poeta é o espantalho do medo, o esconjurador do medo, o delator do medo. Mordaças e estrangulamentos de alma não são com ele. O governo, esse malvado, vive de álibis e aproveita para promover o pensamento único, quando não o medo, esse fantasma tão presente no seu imaginário poético.
Mas nós também devemos ter medo, de um medo que o poeta não tem, medo do nada, do vazio, da vacuidade. Quando o poeta podia dizer algo de novo, que falta uma estratégia, vá de alinhar alguns factos, analisando-os pelo lado do mais reles populismo, como se estratégia fosse navegar à bolina. O poeta está cá para alertar, para lançar atoardas, a mais não é obrigado.
Tudo se podia resolver, talvez com uma mudança de estilo, talvez sujeitando o governo ao interesse meramente partidário, onde o poeta está e não está, conforme a conveniência. O poeta não tergiversa: A liberdade sempre e agora, que já se não pode pensar de maneira diferente de Sócrates, mas também da dele, ideólogo da poesia triste.
O que o poeta não perdoa é que José Sócrates personifique uma política que, bem ou mal, põe em prática, fugindo sempre que pode ao “talvez” com que lhe querem armadilhar o caminho. O que o poeta queria era uma política em que tudo fosse posto em causa a cada momento e que continuamente houvesse alternativas, enfrentamentos, decapitações.
O poeta anda agora atrás de uma vida que perdeu em tantos anos de aparelho. Mas não se tornou inimigo dos partidos políticos, diz. Inimigos são os que promovem o seu fechamento e impedem a mudança e a abertura. O que teria andado esta ave a fazer durante tantos anos? A cuidar da sua vida de certo, que a sua noção de vida política se resume a esta conversa balofa.
O seu medo será de perder o estatuto? O que estará em causa na sua liberdade? O seu valor não pode estar só no busto, na presunção, na vaidade. Porque se analisarmos a sua acção política não passa do habitual desastre que neste País é usual permitir, sem queixas, aos poetas.
Melhor fora dedicar-se à poesia, mesmo com o cariz triste de quem está sempre insatisfeito e de quem da tristeza se não consegue libertar. A não ser talvez quando abandona a Assembleia da República para ir às suas imprescindíveis caçadas. Mas há sempre quem goste destes bustos a que a patine do tempo dá um aspecto solene, de passionarismo decadente.
Se o poeta teve a sensação de que nem sempre convém dizer o que se pensa não terá sido decerto a primeira vez desde o 25 de Abril. Algumas vezes terá calado por medo, outras por motivos menos louváveis, mas com certeza que já teve ocasião de ser leal com alguém, que subserviente não me parece. Com o seu busto altivo haverá lá medo que passe!
Como poeta até deve estar bem habituado a isso, qual fingidor que manobra o medo como bem lhe apetece. Ainda acresce que hoje o poeta não precisa de ser leal a ninguém na sua postura de auto marginalizado do sistema partidário. O poeta já não é leal, nem conveniente, mas caricato.
Como não existe uma cultura de liberdade individual, o que se reconhece ser verdadeiro, cá está ele para servir de exemplo a quem o queira seguir. Se não tem por que se queixar, já quanto à sua contribuição para essa liberdade, que não para a colectiva, não tem sido brilhante. Ocasiões não lhe faltaram para intervir na prática mas quando o fez só borrou as mãos e a escrita. Jornais fechou ele, mas nessa altura o indivíduo ainda não contava.
O poeta é o espantalho do medo, o esconjurador do medo, o delator do medo. Mordaças e estrangulamentos de alma não são com ele. O governo, esse malvado, vive de álibis e aproveita para promover o pensamento único, quando não o medo, esse fantasma tão presente no seu imaginário poético.
Mas nós também devemos ter medo, de um medo que o poeta não tem, medo do nada, do vazio, da vacuidade. Quando o poeta podia dizer algo de novo, que falta uma estratégia, vá de alinhar alguns factos, analisando-os pelo lado do mais reles populismo, como se estratégia fosse navegar à bolina. O poeta está cá para alertar, para lançar atoardas, a mais não é obrigado.
Tudo se podia resolver, talvez com uma mudança de estilo, talvez sujeitando o governo ao interesse meramente partidário, onde o poeta está e não está, conforme a conveniência. O poeta não tergiversa: A liberdade sempre e agora, que já se não pode pensar de maneira diferente de Sócrates, mas também da dele, ideólogo da poesia triste.
O que o poeta não perdoa é que José Sócrates personifique uma política que, bem ou mal, põe em prática, fugindo sempre que pode ao “talvez” com que lhe querem armadilhar o caminho. O que o poeta queria era uma política em que tudo fosse posto em causa a cada momento e que continuamente houvesse alternativas, enfrentamentos, decapitações.
O poeta anda agora atrás de uma vida que perdeu em tantos anos de aparelho. Mas não se tornou inimigo dos partidos políticos, diz. Inimigos são os que promovem o seu fechamento e impedem a mudança e a abertura. O que teria andado esta ave a fazer durante tantos anos? A cuidar da sua vida de certo, que a sua noção de vida política se resume a esta conversa balofa.
O seu medo será de perder o estatuto? O que estará em causa na sua liberdade? O seu valor não pode estar só no busto, na presunção, na vaidade. Porque se analisarmos a sua acção política não passa do habitual desastre que neste País é usual permitir, sem queixas, aos poetas.
Melhor fora dedicar-se à poesia, mesmo com o cariz triste de quem está sempre insatisfeito e de quem da tristeza se não consegue libertar. A não ser talvez quando abandona a Assembleia da República para ir às suas imprescindíveis caçadas. Mas há sempre quem goste destes bustos a que a patine do tempo dá um aspecto solene, de passionarismo decadente.
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