O progresso, nas suas variadas e controversas vertentes, tem a sua origem nas cidades. Toda a experiência da humanidade nos diz que o povoamento disperso retira qualquer possibilidade de formação de massas críticas para os mais variegados fenómenos.
Salvam-se as actuais sociedades do espírito que havendo múltiplas formas de contacto entre os seus membros proporcionam, seja qual for o local onde se encontrem, uma comunicação e uma partilha nunca antes vistas. Faltar-lhes-á o contacto pessoal, uma vivência comum dos problemas imediatos, sobra-lhes um distanciamento de certo modo inultrapassável.
Maugrado na grande maioria dos aspectos que interessam ao desenvolvimento sócio-económico e cultural de uma sociedade nada se consegue sem uma certa aglomeração física das pessoas. Quando falamos de desertificação do interior é porque há uma progressiva perca de condições, de que se destaca a dimensão dos “ajuntamentos”, para nele operar o desenvolvimento:
Há uma diminuição do número de habitantes e/ou concomitantemente a sua dispersão pela paisagem; E paradoxalmente, e não tanto, há em simultâneo, por efeito do progresso exterior, um aumento da massa crítica que seria necessária para que se justificassem certos serviços, certos comércios, certas indústrias e, pior do que tudo, para que brotasse algo de novo, nem que fosse enxertado por estranhos.
Para haver a dita aglomeração física é mesmo necessário que não acho excessiva dispersão habitacional. É preciso haver ruas, praças, jardins, locais de encontro. Em tempos, na nossa superior ignorância, ou no nosso exacerbado egoísmo, achávamos uma prepotência inaceitável todas as limitações à construção por parte do municípios e de outras entidades públicas. Todos querem uma casa bem isolada, de preferência no cimo dum penhasco.
Os poderes públicos bem bradavam que o povoamento disperso aumentava o preço da acessibilidade, seja por caminhos, fios eléctricos e telefónicos, condutas de água e saneamento, afinal os custos directos deste luxo, mas não se fazia referência aos custos indirectos, aos efeitos no tecido social.
Os candidatos autárquicos lá ponham timidamente nas suas propostas eleitorais, copiando-se desavergonhadamente, mas sem intenção de mexer uma palha, que eram a favor do desenvolvimento de centros urbanos de dimensão razoável que pudessem comportar algum relacionamento e conforto “citadino”.
Pura ilusão, eles aprenderam que as pessoas dispersas são mais individualistas, mais influenciáveis, mesmo mais fidelizáveis. Têm uma menor noção de pertença a grupos, sentem-se menos envolvidas e responsabilizadas pelo que a sua fidelidade se deve mais à sua imobilidade intergrupal, o conservadorismo em todos os aspectos agradece.
O que agora se não dispensa é mesmo a mobilidade individual. Para nós já é igual se, para nosso interesse, tivermos que ir a 20, 50 ou 100 km. Assim não há cimento social que resista. Desvanece-se o espírito do lugar.
Os autarcas têm responsabilidades porque se sujeitam facilmente ao egoísmo reinante. Os bons exemplos do passado devem-se mais aos condicionalismos exteriores do que a opções conscientes e a saberes transmitidos. Por isso os Centros Históricos estiolam. Hoje a ligação à terra não existe, o que há são lugares com mais ou menos valor comercial.
Ao progresso interessaria que as pessoas se agrupassem mais, contactassem ao nível da vivência diária, cimentassem no lugar as suas relações, nem todas boas necessariamente, fossem mais livres, menos condicionados a abordar as suas opiniões, menos dependentes da imagem de perfil que um dia mais lhes agradou, abandonassem a hipocrisia de arrogar-se a propriedade de algo quando quase tudo é importado, até os valores o são.
No passado, bem ou mal, havia um cimento solidário, assente numa cultura tradicional partilhada, numa religião sempre presente e abrangente, um saber prático capaz de responder a todas as situações da vida real. Não era de todo mau manter deste passado o espírito de participação pessoal no colectivo.
Tudo isto está porém em declínio ou já feneceu. Da cultura popular ficou o folclore, da religião a fraca usança, do saber um desfasamento irremediável, mercê das mudanças operadas nos nossos modos de vida, da participação cívica uma caricatura, quando não uma clara aversão.
E é isto que nos faz duplamente ignorantes porque o somos e estamos convencidos do contrário. Somos ignorantes e ignorantes que o somos. E quando sabemos isto tudo, mais grave ainda, somos masoquistas. Atiramos culpas para cima de todos nós, insultamo-nos e humilhamo-nos.
Vejamos bem as coisas! Erramos, vimos a tradição pelos seus aspectos mais atávicos e prejudiciais ao progresso, vemos o progresso pelos seus lados mais banais e lúdicos. Repensemos, não nos envergonhemos de admitir que estávamos enganados.
O desenvolvimento das nossas terras não se fará por decreto, sem mudança na nossa maneira de ver o futuro. A aposta num futuro consistente é a alma que lhes falta e que só nós lhes podemos dar. Não podemos pensar nelas só por desenfastio, o que acontece enquanto a nossa máxima for só subir na vida, seja lá onde for, e não for viver numa sociedade solidária.
As visões egoístas não nos permitem viver o lugar, porque o associamos a atraso, vemo-lo afundar-se e não queremos ir com ele. Mas não há espiritualidade sem sítio onde nos agarrarmos ao chão. E a maioria de nós não tem a virtuosidade de fazer do mundo o seu lugar.
Só os emigrantes sentiam o que era esse andar desgarrado pelo mundo. Hoje a maioria de nós já aqui assim se sente. O mundo a sério dos emigrantes é agora o nosso mundo virtual em que nós vivemos e em que só nós contamos. Alheamos de tudo o que nos rodeia, ainda lhe não ganhamos afecto.
Pensemos também nos outros. Ponhamos aquilo que temos de melhor a contribuir para a dimensão e grandeza da nossa aldeia, vila ou cidade, cientes de que o futuro é na sua grande parte implacável e indomável pelas nossas fracas forças.
No entanto temos um futuro e por isso temos que dar as mãos, no que isto comporta de mentes, saberes, recursos, disponibilidades. E, se a nossa dimensão não chega, não sejamos mesquinhos e aliemo-nos àqueles que também nos podem deitar a sua mão.
É necessário redimensionar os concelhos, acabar com as freguesias sem dimensão mínima ou agrupá-las quando isso se justificar, definir centros privilegiados de fixação de actividades comunitárias, de serviços locais e estatais e de todos aqueles que, sendo de índole privada, vejam vantagem em aí se instalarem.
Bairrismos e espírito de paróquia dispensam-se. Massa crítica é imprescindível. Do lado da nossa má tradição está o fomento antecipado das divergências com justificações que não vêm a colher. Mas é tão só a aplicação da velha e absurda máxima de que, a morrer, morramos todos mas cada qual para seu lado.
Não podemos discutir a regionalização sem discutir as outras dimensões que lhe são inferiores: As Cidades, as Vilas e as Aldeias, onde ainda haja lugar para elas. Se não podemos ter umas, as mais pequenas, apliquemos a nossa força nas maiores. Só Urbes com vitalidade nos trarão o progresso e sem a expectativa deste não há regionalização que resista.
Salvam-se as actuais sociedades do espírito que havendo múltiplas formas de contacto entre os seus membros proporcionam, seja qual for o local onde se encontrem, uma comunicação e uma partilha nunca antes vistas. Faltar-lhes-á o contacto pessoal, uma vivência comum dos problemas imediatos, sobra-lhes um distanciamento de certo modo inultrapassável.
Maugrado na grande maioria dos aspectos que interessam ao desenvolvimento sócio-económico e cultural de uma sociedade nada se consegue sem uma certa aglomeração física das pessoas. Quando falamos de desertificação do interior é porque há uma progressiva perca de condições, de que se destaca a dimensão dos “ajuntamentos”, para nele operar o desenvolvimento:
Há uma diminuição do número de habitantes e/ou concomitantemente a sua dispersão pela paisagem; E paradoxalmente, e não tanto, há em simultâneo, por efeito do progresso exterior, um aumento da massa crítica que seria necessária para que se justificassem certos serviços, certos comércios, certas indústrias e, pior do que tudo, para que brotasse algo de novo, nem que fosse enxertado por estranhos.
Para haver a dita aglomeração física é mesmo necessário que não acho excessiva dispersão habitacional. É preciso haver ruas, praças, jardins, locais de encontro. Em tempos, na nossa superior ignorância, ou no nosso exacerbado egoísmo, achávamos uma prepotência inaceitável todas as limitações à construção por parte do municípios e de outras entidades públicas. Todos querem uma casa bem isolada, de preferência no cimo dum penhasco.
Os poderes públicos bem bradavam que o povoamento disperso aumentava o preço da acessibilidade, seja por caminhos, fios eléctricos e telefónicos, condutas de água e saneamento, afinal os custos directos deste luxo, mas não se fazia referência aos custos indirectos, aos efeitos no tecido social.
Os candidatos autárquicos lá ponham timidamente nas suas propostas eleitorais, copiando-se desavergonhadamente, mas sem intenção de mexer uma palha, que eram a favor do desenvolvimento de centros urbanos de dimensão razoável que pudessem comportar algum relacionamento e conforto “citadino”.
Pura ilusão, eles aprenderam que as pessoas dispersas são mais individualistas, mais influenciáveis, mesmo mais fidelizáveis. Têm uma menor noção de pertença a grupos, sentem-se menos envolvidas e responsabilizadas pelo que a sua fidelidade se deve mais à sua imobilidade intergrupal, o conservadorismo em todos os aspectos agradece.
O que agora se não dispensa é mesmo a mobilidade individual. Para nós já é igual se, para nosso interesse, tivermos que ir a 20, 50 ou 100 km. Assim não há cimento social que resista. Desvanece-se o espírito do lugar.
Os autarcas têm responsabilidades porque se sujeitam facilmente ao egoísmo reinante. Os bons exemplos do passado devem-se mais aos condicionalismos exteriores do que a opções conscientes e a saberes transmitidos. Por isso os Centros Históricos estiolam. Hoje a ligação à terra não existe, o que há são lugares com mais ou menos valor comercial.
Ao progresso interessaria que as pessoas se agrupassem mais, contactassem ao nível da vivência diária, cimentassem no lugar as suas relações, nem todas boas necessariamente, fossem mais livres, menos condicionados a abordar as suas opiniões, menos dependentes da imagem de perfil que um dia mais lhes agradou, abandonassem a hipocrisia de arrogar-se a propriedade de algo quando quase tudo é importado, até os valores o são.
No passado, bem ou mal, havia um cimento solidário, assente numa cultura tradicional partilhada, numa religião sempre presente e abrangente, um saber prático capaz de responder a todas as situações da vida real. Não era de todo mau manter deste passado o espírito de participação pessoal no colectivo.
Tudo isto está porém em declínio ou já feneceu. Da cultura popular ficou o folclore, da religião a fraca usança, do saber um desfasamento irremediável, mercê das mudanças operadas nos nossos modos de vida, da participação cívica uma caricatura, quando não uma clara aversão.
E é isto que nos faz duplamente ignorantes porque o somos e estamos convencidos do contrário. Somos ignorantes e ignorantes que o somos. E quando sabemos isto tudo, mais grave ainda, somos masoquistas. Atiramos culpas para cima de todos nós, insultamo-nos e humilhamo-nos.
Vejamos bem as coisas! Erramos, vimos a tradição pelos seus aspectos mais atávicos e prejudiciais ao progresso, vemos o progresso pelos seus lados mais banais e lúdicos. Repensemos, não nos envergonhemos de admitir que estávamos enganados.
O desenvolvimento das nossas terras não se fará por decreto, sem mudança na nossa maneira de ver o futuro. A aposta num futuro consistente é a alma que lhes falta e que só nós lhes podemos dar. Não podemos pensar nelas só por desenfastio, o que acontece enquanto a nossa máxima for só subir na vida, seja lá onde for, e não for viver numa sociedade solidária.
As visões egoístas não nos permitem viver o lugar, porque o associamos a atraso, vemo-lo afundar-se e não queremos ir com ele. Mas não há espiritualidade sem sítio onde nos agarrarmos ao chão. E a maioria de nós não tem a virtuosidade de fazer do mundo o seu lugar.
Só os emigrantes sentiam o que era esse andar desgarrado pelo mundo. Hoje a maioria de nós já aqui assim se sente. O mundo a sério dos emigrantes é agora o nosso mundo virtual em que nós vivemos e em que só nós contamos. Alheamos de tudo o que nos rodeia, ainda lhe não ganhamos afecto.
Pensemos também nos outros. Ponhamos aquilo que temos de melhor a contribuir para a dimensão e grandeza da nossa aldeia, vila ou cidade, cientes de que o futuro é na sua grande parte implacável e indomável pelas nossas fracas forças.
No entanto temos um futuro e por isso temos que dar as mãos, no que isto comporta de mentes, saberes, recursos, disponibilidades. E, se a nossa dimensão não chega, não sejamos mesquinhos e aliemo-nos àqueles que também nos podem deitar a sua mão.
É necessário redimensionar os concelhos, acabar com as freguesias sem dimensão mínima ou agrupá-las quando isso se justificar, definir centros privilegiados de fixação de actividades comunitárias, de serviços locais e estatais e de todos aqueles que, sendo de índole privada, vejam vantagem em aí se instalarem.
Bairrismos e espírito de paróquia dispensam-se. Massa crítica é imprescindível. Do lado da nossa má tradição está o fomento antecipado das divergências com justificações que não vêm a colher. Mas é tão só a aplicação da velha e absurda máxima de que, a morrer, morramos todos mas cada qual para seu lado.
Não podemos discutir a regionalização sem discutir as outras dimensões que lhe são inferiores: As Cidades, as Vilas e as Aldeias, onde ainda haja lugar para elas. Se não podemos ter umas, as mais pequenas, apliquemos a nossa força nas maiores. Só Urbes com vitalidade nos trarão o progresso e sem a expectativa deste não há regionalização que resista.
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