10 novembro 2008

Momentos da Crise (30)

Esta crise é demonstrativa da vitória absoluta e definitiva do dinheiro, como símbolo da riqueza não necessariamente utilitária nem sumptuária. O único valor sólido no sistema é aquilo que noutras épocas seria mais vulnerável a uma crise, quase diríamos a uma moda, a um capricho.
Tempos houve que se dizia que a moeda era falsa ou má e ninguém acreditava nela pelo que o preço dos outros bens inflacionava para atender ao risco do uso de tal dinheiro. Noutras ocasiões não haveria dinheiro e quanto maior fosse a produção de bens maior a dificuldade no seu escoamento, o que levaria à depreciação dos preços e à mudança de uma produção competitiva para uma produção selectiva.
Hoje há dinheiro, entenda-se valor escriturado ou em moeda, dentro ou fora do sistema financeiro, líquido para poder servir para troca ou empréstimo e que se mantém sólido enquanto o mesmo não acontece com os bens que alguém possa receber em sua troca. É a procura do dinheiro, mais do que a procura de qualquer um dos outros bens que determina os preços destes bens e a fluidez da actividade económica.
A determinação do preço do dinheiro, do juro pago pelo seu empréstimo, é uma função do Estado que lhe permite intervir em termos indicativos e assim manter a estabilidade do dinheiro. Só que a voracidade com que se engoliram etapas, a velocidade a que se conseguiu progredir e de certo modo antecipar o futuro, criaram a veleidade de pensar que seria possível antecipar esse futuro ainda mais.
O que ficou por determinar é o preço a pagar por isso, o juro que haveria que ser pago, a base em que deveria assentar. Numa realidade em permanente mutação optou-se por antecipar o futuro, aplicando o preço de hoje e o custo hoje dispendido, isto é, o juro que seria hoje pago. Por isso a fixação das taxas indexantes mutáveis e a cristalização em dados momentos dum futuro imprevisível.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana