15 julho 2008

As razões do nosso esquerdismo (40)

No PREC o PCP procurou a todo o custo que as pessoas assumissem que ser de esquerda fosse ser do PCP. Interessava-lhe mais esta luta do que qualquer outra mais vasta. As pessoas iam aceitando ser socialistas e às tantas aparecia o PCP a dizer que o socialismo era dele e era nele que as pessoas tinham que acreditar.
Sendo o poder por natureza de esquerda, a discussão que se imponha era a da legitimidade da existência de uma vanguarda que o devia exercer, porque a teoria dizia que nem toda a gente estava preparada para tal. As pessoas eram incentivadas a participar na comunidade a que obrigatoriamente as queriam agarrar, em associações cuja natureza era o menos importante e delegar nelas a fase seguinte à democracia de base.
Sendo as pessoas postas a discutir e decidir sobre assuntos de âmbito limitado, sendo as escolhas postas em termos simplistas e obedecendo às regras da dicotomia era possível manipulá-las e pô-las às tantas a fazer escolhas sucessivas que levavam a resultados que interessavam aos vanguardistas de cartilha. A dimensão que cada organização abarcava era estudada e escolhida para garantir o seu controlo.
Confundia-se o voluntarismo de muitas iniciativas populares com a estruturação de um poder popular através do qual a vanguarda comunicava às bases as tarefas que era necessário serem executadas para que os seus propósitos viessem a ter sucesso. Todos aqueles que denunciavam alguma forma de manipulação eram ofendidos e afastados.
Chegou um momento em que o PCP tinha uma estrutura em cada domínio de intervenção como as comissões de moradores, de trabalhadores, os SUV no exército, os CDR nas empresas e outras organizações que assumiam todas as formas e feitios. O que era necessário era despersonalizar, ter estruturas e não pessoas porque é mais fácil o relacionamento, são menores as objecções.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck
O mais perfeito retrato da solidão humana