09 julho 2008

As razões do nosso esquerdismo (34)

A consolidação programática e simultânea estruturação e projecção dos partidos políticos no pós 25 de Abril teve muitos problemas à excepção do rochedo em que Álvaro Cunhal já havia transformado o PC. Este conseguia mesmo fazer alterações à sua linha política, sem que a maioria dos seus membros disso se apercebesse ou lhe desse importância.
A maioria da população para aderir ou dar apoio a um partido só necessitava de duas ideias: Ser a favor por uma dessas ideias e ser contra por uma outra defendida por todos os outros partidos. Por esta razão também as mudanças eram relativamente fáceis quando até era difícil ter uma percepção genérica da realidade. Mudar uma só das ideias já podia implicar mudança de partido. Mudar as duas ideias implicaria uma mudança mais radical.
As opções políticas vieram a consolidar-se à volta de quatro partidos, entendendo muitas pessoas terem faltado dois para melhor representar todo o espectro político. Faltou o partido verdadeiramente socialista e o partido da direita liberal, partidos à volta de cuja formação se travaram muitas lutas.
A direita conservadora e democrata-cristã juntou-se à volta de figuras semi-comprometidas com o regime anterior e durante muito tempo fez do CDS um esteio sólido. O CDS falava de púlpito.
O PPD sofreu as dificuldades de não ser apêndice de qualquer internacional, embora o tenha querido ser, e representou os sectores mais instáveis, dos que têm mais dificuldade de chegar a uma síntese clarificadora. O PPD discutia-se permanentemente na tasca.
O PS definiu-se como barreira. Teve sempre dificuldades de afirmação. Tornou-se um partido de diálogo e não de discussão. Permanentemente vulnerável às investidas dos verdadeiramente socialistas.
O PC, o partido das amplas liberdades, definiu-se também como barreira mas nunca foi levado a sério. Defendeu sempre as últimas conquistas, estivessem elas em situação ascendente, fossem o resultado de sucessivas redefinições após o PS as ter defendido e o PC as ter negado. Os seus verdadeiros propósitos nem Cunhal os confessava.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana