18 junho 2010

Saramago, revia-se ou não nas escrituras?

Saramago assumiu discutir assuntos que outros calamos pela sua incomodidade. Quinhentos anos desde Lutero não foram suficientes para esgotar a discussão sobre as bases em que assenta a parte mais visível da cultura ocidental.
A morte é sempre numa ocasião para alguma revelação, mas também para respeitos inesperados e oportunismos esperados. No entanto Saramago foi daqueles que preparou o caminho para a morte meticulosamente, com algumas incertezas e mudanças sobre as suas cinzas, como quem sempre esperará que a melhor solução seria o vento levá-las para onde lhe aprouvesse.
De qualquer modo pensa Saramago e pensamos nós que as cinzas são a última coisa que nos resta de preocupação para além da morte. Um lugar recatado exige alguém que se ocupe delas, um lugar ao Sol está sujeito a forças de que se não tem o controle. A maioria de nós tem tão só um metro de terreno para que nuns tantos anos a Terra se preocupe em nos consumir.
No entanto continuamos a louvar a grandeza de pensamento de pessoas de quem não conhecemos o resto da vida. De grandes filósofos só conhecemos algumas expressões. Sobre Saramago é bom que salientemos que não há percursos lineares, puros e justos. Há percursos humanos na busca da verdade ou pelo menos de termos acesso a discuti-la.
De Saramago conhecemos atitudes controversas que temos dificuldade em enquadrar nos últimos trinta anos de vida. Será umas das vítimas da euforia de Abril. São só uns cinco anos que traduzem uma deriva persecutória, com aspectos de menor bondade e maior cedência aos aspectos justiceiros que ele condenava no Deus das escrituras, mas com os quais Saramago fez questão em se demarcar.

Sem comentários:

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana