30 novembro 2009

Um comportamento sovina dos comerciantes limianos

Uma campanha de atracção dos clientes ao comércio tradicional não tem necessariamente que dar frutos no próprio ano. Se prometerem rebuçados é natural que tenham por objectivos captar essa clientela de imediato. Se fizerem um desconto suplementar para ser feito nesse período o objectivo não pode ser outro. Quando se faz um sorteio de um carro o objectivo é o mesmo mas o beneficiário vai ser só um e exige-se mais para o rentabilizar.
Ninguém gosta de ser ludibriado. Se os rebuçados não aparecem, se os descontos não são feitos, se o carro está no Largo de Camões mas ninguém dá bilhetes para o seu sorteio, alguma coisa está mal. Os comerciantes ficam cada vez mais desacreditados. Se ainda por cima, passadas as festas, não sabem a quem saiu o carro, logo põem a honestidade comercial de rastos.
Quando se faz uma campanha desta deve ser publicitadas as suas condições. Sejam os rebuçados que se dão, sejam os descontos que se fazem, seja a forma de adquirir os bilhetes para um concurso os procedimentos devem ser rigorosos. Criar expectativas e gorá-las é o pior a ser feito. Não prometam aquilo que não vão dar.
Cada comerciante comprou à Associação o número de bilhetes que quis e fez deles o que bem quis. Em vez de colocarem um placar com a indicação da quantidade de bilhetes dados por um dado volume de compras, escondiam os bilhetes na gaveta à espera que o cliente não falasse disso. É um procedimento mesquinho, para não dizer reles, baixo. Um dia eu falei e disseram-me:
- Paguei-os não os voou dar.
- Então fiquem com a mercadoria e vão-na vender aos papalvos.
Não duvidem que os clientes não são burros e quando os comerciantes fazem uma campanha têm que a fazer honestamente. Os bilhetes não podem ficar para os próprios, para a família, para a Associação. Tem que haver uma entrega dos bilhetes e uma cerimónia pública da entrega do carro, porque essa será a verdadeira publicidade e trará clientes nos anos seguintes.

29 novembro 2009

Todos e ninguém tem razão: Os oportunistas, os inoperantes, os apáticos

A Câmara Municipal de Ponte de Lima encheu a vila de luz nas duas épocas de Natal anteriores às eleições. Este ano tudo vai ser diferente. Há tempos notificou a Associação Empresarial de Ponte de Lima de que só iria fazer a iluminação na Frente Ribeirinha e na Av. António Feijó. Tudo o restante ficaria a cargo da Associação com subsídio camarário.
A Associação Empresarial informou os comerciantes de que estes se deviam unir por ruas ou zonas e promoverem eles próprios a iluminação respectiva com a ajuda do subsídio camarário. A Associação descarta-se assim quando sabe a dificuldade de organização que os comerciantes manifestam e a forma lamentosa como eles se referem à necessidade de comparticiparem também nas despesas.
Os comerciantes lamentam-se de não serem ouvidos para coisa nenhuma, inclusive para a marcação das feiras. Mas a verdade é que ainda há um ano ela foi marcada e desmarcada sob pressão, não desta Associação, mas sim da Associação Empresarial do Porto na qual estão inscritos muitos dos feirantes. Porque é que os nossos comerciantes se não inscrevem naquela Associação e deixam esta que os não defende?
Há muitas razões para lamentar os procedimentos dos nossos comerciantes que não têm espírito competitivo, quando é necessário, nem espírito colaboracionista, quando é o caso. Mas também há razões para lamentar a inoperância da sua Associação e o oportunismo do Executivo Camarário. É uma tristeza a nossa Terra.

28 novembro 2009

Divergências e confluências pouco abonatórias

A política portuguesa vem-se desenvolvendo num clima de loucura. Cada partido é livre de fazer as propostas que quer, mas é pressuposto que, se um partido não está disposto a governar com outros, faça propostas perfeitamente distintivas deles. Tal não tem acontecido, particularmente no caso do PSD, que, estando obcecado por atingir o poder, nem se preocupa em que condição o poderá atingir.
Um dia que o PSD seja chamado a governar fá-lo-á com a extrema-esquerda ou o CDS chegar-lhe-á? É legítimo que, decerto não sendo a primeira a opção do PSD, recorra agora ao voto da extrema-esquerda? Tudo parece possível neste clima obscuro, mas é evidente que nem é necessário lá chegarmos para ver a impossibilidade de a actual maioria negativa se vir a tornar uma maioria de governo.
O CDS apresentou um voto sobre o 25 de Novembro, no qual nem era referido o 25 de Abril. Teve o voto do PSD e foi rejeitado com os votos do que se poderia chamar, mas não é, maioria de esquerda. Esta gosta deste folclore e para isso aproveita o voto do PS. Mas ao mesmo tempo permite-se votar ao lado daqueles cujo único propósito parece ser asfixiar o governo, minar os alicerces financeiros da sua política, que, não sendo da sua esquerda, não é de direita.
Pode ser muito bonito que haja votos destes a rejeitar uma memória selectiva da direita que quer esquecer que houve um 25 de Abril. Já não parece acertado que haja uma confluência de votos entre a extrema-esquerda e a direita para inviabilizar a governação coerente do País.

27 novembro 2009

Deixamo-nos ir ao sabor da … vida

Nós vogamos ao sabor da vida, com os olhos fora da água, pensamos nós. Por vezes o nevoeiro é tanto que dúvidas se levantam se levamos ou não os olhos dentro de água. A percepção da realidade por muitos de nós é estranhamente idêntica mas suficientemente enigmática para que a possamos usar para nos entendermos.
Nós podemos prezar muitas coisas na vida. É natural que com a idade essas coisas se vão alterando. No entanto a sociedade moderna, na sua ânsia de parametrizar tudo, de ter padrões pelos quais cada qual possa aferir o seu próprio cumprimento dentro dos valores de referência, passou há uns tempos atrás a ter no nível de vida o seu parâmetro mais valioso.
A nossa percepção individual do nível de vida mediano, e do valor relativo do nosso em relação a esse, depende também do nosso percurso de vida. Incompreensivelmente quase todos, estejam abaixo ou acima desse nível médio de vida, reclamam um aumento do nível de vida, quase como náufragos que estão em igualdade de circunstâncias e cuja cabeça submerge simultaneamente acima do nível da água que representa a vida.
Esta maneira de abordar esta aproximação do homem ao nível de vida mediano leva a que não consigamos saber com objectividade quais as diferenças existentes, quanto a expectativas e possibilidades. Mais uma vez nada fazemos por nos entendermos porque aparentemente comportamo-nos como se já todos estivéssemos de acordo e isso é falso.

26 novembro 2009

O que desce e o que sobe neste País

É natural, que não do nosso agrado, que só se fale do que desce neste país, às vezes do que pretensamente desce e na realidade não é tanto assim. Dissolvem-se determinadas regras que constrangiam os comportamentos sociais, que existiam muitas vezes sem proveito e até com prejuízo de todos os envolvidos. Aquilo que eram consequências de uma situação económica específica, com as suas relações económicas próprias é natural que mude. No entanto isso provoca em certos espíritos um vazio desagradável.
Há uma absoluta atracção pela descida. A propósito de tudo se diz que o País se afunda, o mundo se afunda, quando se ignora que nos vários locais há evoluções em sentidos díspares e que os processos mentais, sociais e políticos em que se encontram envolvidos não tem correspondência nos modelos a que estamos habituados.
Esta crise, e crise é sempre uma descida de alguma coisa, veio acentuar este estado de espírito descrente e pessimista. A verdade é que a crise arrastou atrás de si, na mente dos espíritos mais fracos ou mais capciosos, uma série de verdades, de conhecimentos ainda pouco sólidos, colados com fraca aderência a outras verdades já mais velhas e solidificadas.
Acusa-se de no meio desta crise terem sido deitados ao chão alguns pilares da nossa economia e de que nunca nada será como dantes. Na realidade isso aprazer-nos-ia sobremodo. Simplesmente não vejo a esquerda a aproveitar devidamente a situação, a ter ideias precisas sobre o que deve fazer, não só para que certas situações se não repitam, mas para que a lógica da actividade económica seja privada, mas, outra.

25 novembro 2009

Os que ganham com a existência dos espertos

É por demais evidente que quem se encontra socialmente na mó de baixo encontra quase todos os caminhos tapados, mas nem sempre. Os espertos tentam furar e por tentativa e erro lá vão subindo sem apoios que se vejam, além dos seus músculos, unhas e engenho.
Porém muitas mais pessoas subiriam se tivessem quem os informasse do que a Lei lhes permitiria fazer, tanto pelos seus interstícios como também pela “distracção” de quem a deveria aplicar. No entanto só aqueles que chegam a um bom patamar conseguem recorrer a apoios exteriores.
Quem quer subir tem sempre que aproveitar os caminhos esconsos da Lei, mas para isso e com sorte basta ir aprendendo na prática. Se tanto basta numa primeira fase depois para ultrapassar aquilo que a lei estipula como ilegal já é necessário um aconselhamento, apoio e cumplicidade de gente entendida e bem colocada.
Homens da advocacia, mas não só, funcionários públicos, gente que jura defender ou é pressuposto que defenda a legalidade, coloca-se à disposição daqueles que querem subir, que sabem que há um patamar a partir do qual isso é difícil de acontecer, mas cuja ambição sem limites faz tomar como objectivo nebuloso mas alcançável. Havendo quem esteja pronto a pagar, não falta quem esteja disposto a receber, desde que os riscos que corre sejam, na sua percepção, menores.
Só no caso da nossa administração se vê quanta gente arrogante, pretensiosa e distanciada existe para que o preço dos seus actos ilegais e por vezes até legais seja mais elevado. Também não será de querer o contrário uma administração transparente, que abre todas as portas falsas, que ensine a todos o que só poucos sabem, mas aquele meio de termo de que ou comem todos ou não há moralidade.

24 novembro 2009

A justiça não tem que passar toda pelo sistema judicial

Em última instância a política é responsável por tudo que tem a ver com a organização social e portanto com a justiça. Se esta está mal à política se deve. Esta razão chega para que o contrário não possa ser verdade. A política não está mal por causa da justiça e a política não deve interferir no campo da política em especial na luta política.
A maneira de construir um edifício judicial sólido, de exercer uma justiça eficaz, será definir logo à partida a competência desse aparelho judicial. Já hoje existem muitos campos da actividade com regulamentos próprios, leis especificas cujo cumprimento não é avaliado pelo poder judicial. Mas há muitas leis gerais, muita intromissão do Estado na vida social que, por arrastamento, leva à intromissão do aparelho judicial na vida social e política.
A especialização dos juízes é uma tentativa neste sentido, mas ineficaz. A constituir órgãos com competência de julgar teriam que ser independentes doutros já existentes noutras áreas. Com mais ou menos dignidade, não é a dignidade que traz sentenças acertadas. Se o conflito é da área do negócio, terá que ser um júri próprio a julgar, como o é já na área do desporto.
A ideia de que um corpo de juízes com togas e outros adereços, devidamente equipados para a função, produzirá uma justiça mais equilibrada, mesmo que tardia e até fora de tempo, é uma ideia peregrina. Nas actuais circunstâncias o aparelho judicial arrasta para baixo de si assuntos que podiam ser resolvidos por acordo das pessoas e entidades a que dirão respeito. O aparelho judicial, para se justificar, obriga a uma espera desnecessária e a um custo exorbitante e dispensável.
Por mais que desconfiemos de nós próprios, por mais delegações que façamos de competências que deviam ser nossas ou entregues a entidades doutra natureza, há um grande espaço no domínio genérico da justiça de que o aparelho judicial se apropriou ou no qual a sua intervenção cria muitas expectativas, mas é mais ineficaz. Se o aparelho se dedicasse a aplicar uma justiça específica em campos em que fosse mais premente a sua não ligação a nenhuma das partes, seria mais eficaz.

23 novembro 2009

A tentativa de judicialização da política

São muitas as pessoas que dizem encontrar a solução para todos os problema através da judicialização da política. Todas as acções políticas teriam que ser passíveis de uma apreciação judicial. Instituir-se-ia princípios de legalidade substancial em vez de princípios de direito que abranjam somente o processo administrativo.
O alargamento do campo de acção dos governos, o alargamento da gestão política de fenómenos sociais outrora tidos por imunes à política, a entrada em domínios de acção directa, como a economia, tornou a política uma fonte de conflito com os cidadãos devido às relações que se estabelecem. Muitos destes cidadãos acham que as soluções seriam mais favoráveis para si se a gestão destes conflitos fosse entregue à justiça.
As forças políticas que na presente conjuntura parece defenderem estas ideais na realidade não tolerariam uma intromissão permanente da justiça na sua acção. Essas forças também sempre participaram na elaboração da legislação que dá aos interesses do Estado prevalência nas relações com particulares, que dá aos agentes do Estado uma credibilidade superior à dos outros. O Estado mesmo agindo como empresário tem vantagem sobre a iniciativa privada.
O poder político tem dificuldade em prescindir de utilizar o poder judicial em seu proveito. Usa-o também quando não encontra outra forma de intervenção num determinado domínio. O poder judicial, quando se sente seguro, sente vontade de ridicularizar o poder político e não tendo leis para o julgar cai na tentação de o tentar julgar na praça pública. O sistema justicialista atinge o auge quando chega à definição e julgamento de carácter.

22 novembro 2009

Numa relação pode haver compensações mas não chantagens

As pessoas são mais permeáveis a determinados tipos de chantagem do que a outros. Sempre foi habitual em épocas em que o homem tinha uma função especialmente importante na obtenção de meios económicos para a subsistência da família haver homens que se congratulavam com o seu sucesso não o partilhando e afrontando mesmo as mulheres com esse facto. Estas resignavam-se a aceitar tal facto e tudo o resto ficava condicionado.
Em tempos mais recentes esses esforços são partilhados na medida das possibilidades de cada elemento da família. Só que a procura desta igualdade de responsabilidades faz esquecer a necessidade de procurar alguém capaz de partilhar valores pessoais e sociais mais consistentes. Juntar duas pessoas com a mesma ambição não será a melhor forma de construir uma harmonia que não dependa do contributo económico de cada um.
Numa relação que se pretende tão duradoura como a família as pessoas têm de ser capazes de encontrar compensações, mas a sua utilização como moeda de troca pode dar origem a problemas devido à diferente sensibilidade de cada um. No entanto as compensações quando envolvem meios económicos não são mesmo verdadeiras, são antes meios de chantagem de que os indivíduos se servem.
Quando algo se paga com dinheiro, sem envolvimento emocional e sentimental, sem partilha de esforço e de ganho afectivos está-se a criar uma dependência que pode resvalar para domínios perversos. De repente podemos estar a ver chantagens em todo o lado, haja ou não razão para as ver e esse é o fim ou pelo menos o seu princípio.

21 novembro 2009

A fuga à chantagem emocional, social e pessoal

Dizem que cada vez mais as mulheres jovens, a que outrora chamávamos com uma certa graça de raparigas, estão preparadas para relacionamento complexos e até simultâneos. Tal seria verdadeiro se conseguissem viver apenas emocionalmente e se privassem de elaborar sentimentos. E para muitas pessoas esta é a parte mais interessante de qualquer relacionamento porque permite preservar a experiência adquirida. Quase todos nós gostamos de ter um certo passado.
A cada um de nós o que sobra depois de vivermos uma experiência puramente sexual? Pode ser a vontade de repetir a experiência, mas se à partida não integramos esse facto numa vivência mais alargada e partilhada dificilmente criamos sentimentos que dêem outro significado a essa experiência e ficamo-nos pela simples licenciosidade. Também a dificuldade da conquista como aliciante tem os dias contados.
Aquilo que mais preocupa a maioria das pessoas é a possibilidade de chantagem que afecta a sua imagem social. Normalmente as raparigas não têm uma imagem de si suficientemente sólida para fazer da sua defesa o principal factor no seu relacionamento. O que sendo perfeitamente natural sempre levou as pessoas a procurar relacionamentos com uma certa previsibilidade dentro de um grupo social específico.
As raparigas precisam de um espaço em que vivam, mas também se criem. A sua liberdade é mais importante que alguém que as pretenda condicionar a troca de uma paz podre, só possível porque se criam mundos fechados à margem do fluxo normal da vida. Também não se pode ser escravo mas tem que se ter em conta o percurso académico, profissional, afectivo. Já ninguém se pode subordinar ao capricho masculino, mas cada um tem de encontrar um modo de viver com o capricho d’alguém.

20 novembro 2009

O aprisionamento da alma e a morte do corpo

Aqueles que vivem momentos que entendem de particular felicidade não raro se revoltam contra as outras pessoas e perguntam porque razão estas complicam tanto as coisas. Criaram o seu próprio mundo de felicidade e passam a adoptar uma atitude defensiva, integrando as outras pessoas nesse mundo de uma forma estática, formal.
Essas pessoas não alertam os “parceiros sociais” para esse facto, que a partir de uma dado momento não são mais livres de mudar de comportamento, de fugir a uma imagem que eles criaram no seu cérebro e que aprisiona os outros de uma maneira tenaz, persistente. Alguns até já sabem, mas convencem-se que tem a força suficiente para levar os primeiros a um relacionamento mais aberto e partilhado.
Muitas pessoas convencem-se que este aprisionamento não é possível em relacionamentos tão dinâmicos como é pressuposto serem hoje os relacionamentos amorosos. No entanto esta forma de ver o relacionamento amoroso é tão vulgar como o são as outras formas de ver outros relacionamentos sociais de natureza diferente. Há imensas pessoas a viver em mundos fechados e que estabelecem uma frágil barreira entre a amizade e o despeito, o amor e o ódio, a atracção e a aversão.
Aqueles que querem condicionar a vida alheia, o percurso académico, os modos de ser, que conseguiram prolongar algum momento de apaziguamento e criam junto dos outros algum espaço com leves críticas, mas sem revelar o seu carácter exclusivista mergulham muitas vezes na sofreguidão de quem se acha o centro do mundo.

19 novembro 2009

A leveza de espírito à custa alheia

O que faz as pessoas felizes é uma certa leveza de espírito, não tanto o peso do dinheiro nos seus bolsos ou a quantidade de bens que têm à sua disposição. Como se conseguirá que as pessoas abandonem o afã de juntar dinheiro, de consumir todo o possível e imaginável e alcancem essa leveza, se livrem de ressentimentos, raivas e azedumes?
Em primeiro lugar é necessário saber que as pessoas se não vão esquecer da competitividade que necessitam de ter para sobreviver com o mínimo de dignidade neste mundo em que a economia é utilizada para tudo inclusive para definir os níveis de bem-estar e de felicidade de todos. Todos somos misturados e passamos por ter um nível médio de desejos e ambições. E se uns estão acima e outros abaixo é porque a uns é permitido ter e a outros não. A muitos não lhes é permitida a felicidade porque não lhes sobra tempo só a alguns é permitido lutar pela dignidade doutra forma.
Porém a leveza de espírito pode conviver bem com a falta de dignidade. Igualmente convive bem com os sentimentos dos mais perversos e persistentes. No geral já não convive bem com os esforços desmesurados necessários que muitos têm que suportar para suprir as necessidades mais básicas de subsistência.
Muitas pessoas conseguem a sua paz de espírito à custa de outras e nem se apercebem disso. É isso que ocorre com aqueles assassinos de namoradas que vão cerceando a liberdade alheia e sentem-se felizes enquanto estão convencidos de o terem conseguido, mas não toleram uma fuga ao cerco que montaram, pelo menos mentalmente.

18 novembro 2009

Um corridinho patético atrás de uma vitória na secretaria

Manifestei-me várias vezes contra a luta que os professores desencadearam cegamente contra uma Ministra e uma política seguida por um Governo com maioria absoluta. Haveria razões para essa luta, mas outras eram meramente corporativas, de alguém que vive e quer continuar a viver num mundo à parte.
Os partidos da oposição, por uma questão de retirar trunfos ao governo, apoiaram também os professores em todas as suas contestações, mesmo que os próprios professores as não partilhassem todas. Uns só eram contra a idade de reforma, outros seriam contra a avaliação, outros seriam contra o prolongamento de horários, outros contra a redução de férias, outros seriam contra a criação dos professores titulares. Os partidos eram contra tudo.
Agora que o governo mudou, que houve uma distensão no litigio existente, que se realizam e estão marcadas novas reuniões entre o Governo e os sindicatos, eis que os partidos da oposição se abespinham entre si para assumir um protagonismo e marcar alguns pontos. Parece que agora ninguém quer ficar de fora, nesta fase em que se procura uma solução, nem que seja participando a deitar limalha para a engrenagem.
O CDS acuda o PSD de frete por este deixar de alguma forma às organizações sindicais a defesa dos seus pontos de vista, e não assumir uma posição frentista e negativista em relação ao que possa vir do lado do Governo. A negociação tem que ser feita entre o Governo e os sindicatos e não entre a Assembleia e os sindicatos. A Assembleia poder-se-á pronunciar à medida que se vai desenrolando a negociação e após o resultado desta. Mas não pode marcar os tempos e os parâmetros da negociação, como alguns partidos querem.

17 novembro 2009

Uma vantagem do TGV para o País para nós é

O TGV Braga-Valença está finalmente em discussão pública. Eventualmente Ponte de Lima só terá prejuízos e nenhum benefício. Porém visto a nível nacional os benefícios parecem evidentes, salvo o caso de poderem ser melhores, se a opção fosse pela velocidade mais moderada e pela bitola europeia. Mas seria isto viável se a ligação espanhola segue outros princípios?
A negociação destas ligações feita no tempo da dupla Durão Barroso/Ferreira Leite terá sido má conduzida e houve uma cedência completa às pretensões dos espanhóis. E, se no caso da ligação Lisboa-Madrid os benefícios ou prejuízos se repartirão entre Portugal e Espanha, é evidente que aqui, a haver prejuízos, o que será o mais natural, eles recairão quase na totalidade para Portugal porque a parte da linha que do lado espanhol é exclusiva desta ligação é diminuta.
Na perspectiva nacional ainda se levantarão muitas outras questões. Passam pela necessidade de uma nova ligação Porto-Lisboa, pela vantagem da adopção da bitola europeia nas ligações principais dentro do País, pela ligação ao aeroporto do Porto, pelo transporte de mercadorias, pelo incentivo à utilização do transporte ferroviário, etc.. Não é seguro que estas questões tenham sido pensadas antes de se embarcar nesta aventura.
Se tivermos uma certeza dos benefícios desta linha de TGV, tal como está pensada, para o País, acho que os prejuízos estritamente limianos se têm que dar por legitimamente suportados. Caso não tenhamos esta certeza será um sacrifício desnecessário e demasiado penalizador.
Em suma: o problema não está, nem pode estar, na passagem dum comboio; está em vermos uma vantagem para o nosso País, que para nós é.

16 novembro 2009

Como se suja um bom trabalho com uma conspiração sem nível

O segredo de justiça ter-se-ia rompido algures no Pombal, no trajecto entre Aveiro e Lisboa de umas cassetes com gravações das conversas escaldantes entre Armando Vara e José Sócrates. O assunto seria o desbragamento da nossa estrela televisiva Manuela Moura Guedes, na sua forma peculiar de aproveitar uns factos pisados, repisados e mal interpretados para semanalmente vergastar o Sr. Primeiro-Ministro.
Aparentemente o sistema judicial quis matar dois coelhos de uma só cajadada. A primeira foi para o caso Borlido e tudo se passou com uma discrição exemplar, de louvar se não fosse obrigação de todos os envolvidos na investigação. A segunda cajadada seria para o José Sócrates, apanhado nas ditas conversas. Não confiante na sua justeza, o sistema judicial remeteu tudo para o sistema justicialista, aparentemente mais expedito e eficaz.
O problema é que ainda se não conseguiu encontrar qualquer responsável pela violação do segredo de justiça. A verdade é que esses violadores pertencem ao sistema de justiça, que impunemente brinca com aquilo que era sua obrigação preservar diligentemente. E nada me diz sequer que não será por espírito de conspiração política, mas tão só por dinheiro que esta gente procede desta forma.
Os Ministros Vieira da Silva e Santos Silva sobrestimaram os seus adversários políticos. Manuela Ferreira Leite é tão só um caso patológico de alguém que, antes de ir calçar as suas pantufas, ainda quer dar algum golpe vitorioso, para que se não diga que só armazenou derrotas. O certo é que nem conspiradores de gabarito temos e portanto este recurso a estes voluntários irresponsáveis, cobardes e corruptos.

15 novembro 2009

Como analisar a nostalgia do passado

O 25 de Abril em Portugal e a queda do muro de Berlim aconteceram num intervalo de 15 anos, intensamente vividos. Foram anos decisivos no desfecho da guerra-fria. A questão que se levantava era se o comunismo ainda tinha folgo para se expandir no último Império Colonial a cair ou por outro lado também o Império Soviético teria atingido o seu estado de maturação.
Normalmente qualquer império só cai depois de explorar todas as possibilidades de sobrevivência ao que se segue o inevitável apodrecimento. As últimas energias do Império Soviético foram colocadas na sua tentativa de expansão no ex-Império Colonial Português, mas o estado decrépito da economia soviética levou à implosão sucessiva dos países que o componham.
Estes acontecimentos foram seguidos com a compreensão de muitas camadas dirigentes que se aperceberam mais cedo da inevitabilidade dos desfechos negativos e com o apoio popular, desejosos que todos estaríamos de desfazer as amarras que nos prendiam há décadas.
Há alguma nostalgia do passado. É também uma inevitabilidade. Há aqueles que sempre lhe estiveram receptivos, mas evidentemente que há também alguma nostalgia benévola, sub-reptícia, que pode atingir os espíritos mais prevenidos. Há aspectos da vida que mudaram para melhor, mas têm que se aceitar que haverá um ou outro que simplesmente não é mais possível.
As vivências são pessoais, dificilmente haverá quem as tenha exactamente iguais. Aquilo que para um é positivo pode ser negativo para outro, sem se poder dizer que um está a ser mais correcto do que outro. É com este espírito de condescendência que devemos olhar para certas manifestações nostálgicas que surgem ainda hoje em dia. Ninguém pode é exigir ser feliz à custa da maioria, muito menos quando isso pressupõe um regresso ao passado globalmente ignóbil.

14 novembro 2009

A escuta, um vício nacional

O primeiro escutado dos que ocupam, para o bem e para o mal, o nosso quotidiano televisivo, informativo, nacional, terá sido o homem que faz a ligação entre o sistema judicial e o sistema justicialista, o Sr. Procurador-Geral desta República com pouca coluna vertebral. A Dona Ferreira Leite achou que não devia ficar de fora deste episódio de asfixia democrática tão ao seu gosto e queixou-se a seguir. O nosso Presidente parece que ainda tem uma certa inveja da vida politica partidária e criou aí um quiproquó dos diabos com as escutas ao seu palácio.
Todos ouviram zumbidos estranhos nos telemóveis, ruídos esquisitos nas suas comunicações, mas de tudo isto nada se confirmou. Mas eis que surge uma intenção, meio ameaça, de colocar nos escaparates umas conversas privadas do Sr. Primeiro-Ministro. Deste há escutas, há gravações quantas baste e há transcrições dadas a conta-gotas para os meios de comunicação social se entreterem à falta doutro assunto.
Porém o interesse coscuvilheiro exultaria se tudo fosse colocado cá fora. Saber-se-iam pormenores que fariam as delícias dos jornais de alcova, os psicólogos, politólogos e outros especialistas teriam vasto campo de estudo para analisar as discrepâncias entre o discurso privado e o discurso oficial do Sr. Primeiro-Ministro. Possivelmente decretariam que qualquer seu sucessor passe a ter uma só forma de ouvir, de falar, de escrever, de se relacionar.
Qualquer candidato a Primeiro-Ministro ficará assim privado de amigos, confidentes, conselheiros, não terá direito a vida privada. Em todos os actos e situações deverá comportar-se de uma mesma forma austera, circunspecta, sisuda. Num País com tanto bandalho, brincalhão, irresponsável, exigente quanto ao respeito pelos seus direitos, mas sempre prontos a violar os direitos alheios, a privacidade, o equilíbrio e a estabilidade emocionais dos outros, o PR será de futuro a referência com cara de pau.

13 novembro 2009

O justicialismo impede uma justiça rápida e eficaz

O justicialismo é uma doutrina muito divulgada que satisfaz sobremaneira os nossos espíritos vingativos e castigadores. Ao primeiro rumor tem que se condenar e tem que se aplicar desde logo a pena. Será uma forma de reagirmos ao real desleixo legal e prático com uma exigência imediata e aparente. O problema é que a realidade não se compadece com os nossos desejos e o justicialismo é assim ineficaz.
Andaram-se anos a pensar como se haveriam de reforçar os direitos das pessoas. Legislou-se no sentido de diminuir as penas e de permitir toda a espécie de actos processuais que facilitem a defesa dos acusados. De súbito todos levam as mãos à cabeça e dizem que se exagerou, que agora só chega à barra dos tribunais quem quer, só é condenado quem permitir que o seja.
Por outro lado quando é necessária alguma acção mais visível, quando a existência do processo se torna pública, logo todas as pessoas, quase sem excepção, querem saber tudo sobre o processo em causa, no afã, podemos dizer legítimo, para estarem preparadas para emitir sentença sobre o caso. Aqui reside o erro da nossa parte. Podemos pugnar por melhor justiça, mas não podemos querer ser nós a aplicá-la, muito menos já.
Quando seria necessário que todos respeitassem os actos judiciais, que fosse dada a possibilidade de a justiça ser aplicada atendendo à verosimilhança dos actos, que fosse dispensado que a Lei fizesse a descrição pormenorizada do que é permitido e do que é proibido para que não fosse invocada qualquer omissão, eis que aparece todas a espécie de personagens a pretender retirar toda a credibilidade que resta às únicas pessoas capazes de aplicar essa justiça mais rápida e eficaz, com processos mais expeditos e tipologias mais vastas.

12 novembro 2009

A esquerda está sem atitude, a direita está expectante

A crise financeira de 2008 pôs a descoberto um mundo de que se falava, sobre o qual se especulava, mas que afinal se desconhecia e cuja falta de valores, de princípios surpreendeu toda a gente. Os financeiros exageraram na mobilidade que quiseram dar ao dinheiro, aplicaram-no em bens de valor duvidoso, mas o seu grande objectivo era retirar nessas movimentações algum proveito para si.
A esquerda europeia, no poder ou na oposição, não soube retirar dividendos deste comportamento irresponsável da direita liberal. No caso português tínhamos a nossa crise interna, que, se estava em fase de solução, não deixou tempo para que se comprovasse tal facto. E perante esta sucessão de crises, a esquerda portuguesa permanece com uma posição fossilizada, como se nada tivesse mudado.
Há uma incapacidade de pensar o futuro que não seja pela recuperação dos procedimentos que foram postos em causa nesta crise financeira. A esquerda no poder sente-se impotente, senão para unir os cacos, para mudar a política, a esquerda na oposição mantém o seu discurso de que afinal é necessário estilhaçar muito mais, tudo, para possibilitar que se pense o futuro doutra maneira, para tornar viável outra política.
Tanta irresponsabilidade da esquerda vai levar a entregar o pouco poder que ainda detém à direita, possivelmente quando não houver dinheiro para pagar os rendimentos sociais de inserção, os benefícios sociais que, mesmo assim, a esquerda tem aumentado sobremaneira. A direita ataca só o RSI, mas mantém todas as suas outras ideias de reduzir benefícios e de entregar a segurança social a privados. Incompreensivelmente a população continua a colocar a hipótese de apoiar essa direita.

11 novembro 2009

Um muro que marcou uma geração

Começava a despertar para o mundo quando o Muro de Berlim foi construído. Foi um balde de água fria num entusiasmo juvenil de quem não imaginava um mundo assim. Se a guerra-fria já tinha começado uma década antes de eu ter nascido, a verdade é que foi neste início da década de sessenta que os conflitos se exacerbaram, tomaram proporções difíceis.
Vivemos directamente os efeitos das guerras coloniais, episódio caricato de um povo comandado por um louco, Salazar, a tentar remar contra ventos e marés. Este povo indolente deixou-se conduzir sem destino por terras sem fim viagem que a nossa pequenez fazia ridícula. Ao mesmo tempo um outro povo valente, o alemão, habituado a outras guerras de outras dimensões, era definitivamente humilhado e ofendido por um dos vencedores, impiedoso e justiceiro. Só o Ocidente deu a mão a este povo já tão castigado.
Já tínhamos três décadas de ditadura, mas o falhanço de Humberto Delgado, a guerra colonial e a construção do Muro de Berlim foram os motivos usados pela propaganda salazarista para justificar o seu regime. Salazar revigorou-se, ganhou novo alento, melhorou os métodos repressivos, aumentou o controle sobre estudantes e a população em geral. Podem ser pretextos, mas aqueles factos vieram a propósito quando Salazar estava a ficar isolado nacional e internacionalmente.
O regime de Salazar viria a cair mais depressa que o Muro de Berlim. Cá foi um império de papelão sustentado por soldadinhos de barro que ruiu uma madrugada, quando a vergonha assomou à cara de uns capitães parasitas. Lá fora foi um poderoso império que se foi desmoronando e de que a queda do muro de Berlim constituiu a culminar apoteótico.Estes dois factos contribuíram para tornar o mundo mais livre, os homens mais capazes de determinar o seu futuro. Maugrado o aproveitamento deficitário da euforia que tais factos proporcionaram, foram passos necessários, ocasiões decisivas, vitórias contra o medo e a opressão.

10 novembro 2009

O que faz sentido: empresas públicas, liberalismo económico?

Será de defender as empresas públicas só porque a direita as ataca e esquerda que as tem por imprescindíveis no seu programa político as defende? A existirem deverão fornecer bens e serviços a baixo preço ou antes usar os preços de mercado e contribuir para o orçamento? A existirem os seus gestores devem ser remunerados ao nível do funcionalismo público ou dos gestores da iniciativa privada?
Há hoje uma noção de socialismo que não passa pela nacionalização da economia, devido aos efeitos perversos que uma gestão centralizada da economia traz ao seu funcionamento. Mesmo quando há necessidade de existir um controle dos preços não é necessário que as respectivas empresas sejam do Estado, antes é necessário uma subsidiação dos seus produtos de modo a se constituírem preços políticos.
A existência de empresas públicas tem que ser visto como um mal menor. Quando existirem têm que ser um exemplo de moderação a todos os níveis, em especial a nível da remuneração dos gestores. O seu controle tem que ser rigoroso até porque no geral estas empresas são monopolistas, não têm concorrência que lhes possa fazer frente. Por esta razão até os seus trabalhadores exigem um tratamento especial, diferente dos seus compatriotas.
As empresas públicas não transportam todos os males do mundo, mas têm-nos em quantidade suficiente para que se pense numa alternativa que passe por um maior controle da actividade privada, pela moralização de toda a actividade económica, toda ela só possível nestas condições pela existência do Estado, e obrigadas assim a contribuir para a sociedade. O liberalismo económico não se justifica porque as empresas são parte integrante duma sociedade que tem as condições para a sua operacionalidade.

09 novembro 2009

Ainda faz sentido falar de esquerda quando ela própria não é clara?

As soluções propostas pela direita e pela esquerda divergem substancialmente e constituiriam uma base suficiente para opções claras do povo, não fora a confusão que essa certa esquerda propaga nas mentes de quem diz defender.
A direita propõe vencimentos dos dirigentes a nível europeu, já que é no espaço económico do euro que nós nos encontramos e é pelos seus dirigentes que eles se têm que nivelar. A direita propõe salários do terceiro mundo para a maioria dos trabalhadores, em especial para os trabalhadores braçais porque é com os países do terceiro mundo que eles têm que competir.
A esquerda tenta que a economia nacional seja dominada por princípios de solidariedade, que os poderosos olhem para os seus concidadãos e os fracos sejam suficientemente avisados para se não envolverem em lutas por benefícios sociais incomportáveis. A esquerda tenta ser realista e tenta utilizar as associações de empresários e de trabalhadores para obter consensos.
A direita desculpabiliza-se com aqueles que, dizendo-se de esquerda, actuam como ou ainda pior do que os da direita. A esquerda tenta culpabilizar a direita por todos os comportamentos de egoísmo exacerbado. A esquerda não detentora ou não aspirante ao poder culpa a outra esquerda que detém ou aspira ao poder de ser conivente com a direita e não ter projecto próprio. Mas ela própria é prisioneira da lógica sinsical.
Os sindicatos fortes tentam ter benesses que não envergonham nenhum homem de direita, os sindicatos fracos resignam-se a lutar contra o desemprego, contra os salários em atraso, não têm qualquer perspectiva de se imporem no panorama político. Os sindicatos não são hoje organizações de esquerda, não são solidários, não defendem qualquer perspectiva de classe. É o mais egoísta desenrasque de cada grupo ou mesmo de cada indivíduo.

08 novembro 2009

As sociedades secretas e a ética empresarial

Sobressaem neste processo sucateiro as empresas que já foram ou são ainda do sector empresarial do Estado. Recriadas, reorganizadas essas empresas são geridas por políticos do pós 25 de Abril ou pelos descendentes e colaboradores dos antigos patrões do antes 25 de Abril, devidamente reciclados e reintroduzidos na nata da gestão.
Não será só culpa deles porque o desafio liberal existente neste País e no mundo em geral espatifou toda a ética empresarial. Se havia alguma reserva que subsistissem do antes da queda do Muro de Berlim, estes vinte anos passados já tudo fizeram desvanecer. Neste fartar vilanagem vale tudo, além das mãos na gaveta são as pequenas e grandes “ofertas” para juntar ao pecúlio. Quem vende a alma também vende uns simples actos de compadrio, de favorecimento, de suborno. O preço é irrelevante.
Estes gestores formam um clube fechado em que competem e colaboram sociedades secretas tipo Opus Dei e Maçonaria e Partidos e outras Associações que protegem, apoiam e fortalecem os laços de amizades interesseiras e leais para eles, mas desleais em relação a toda a sociedade. As sociedades secretas minam ainda o Ensino, a Magistratura, a Advocacia, todos os sectores importantes. E onde estiver um membro está toda a companhia.
Não serão a fonte de todos os males mas contribuem com o seu carácter para que não haja a devida punição dos seus membros e levam ainda a que em paralelo outros sejam beneficiados. Não duvido que essas sociedades secretas não estão a desempenhar a sua função estatutária. Os seus membros deveriam pensar melhor em relação a quem são solidários e não tentaram colocar o Estado e as empresas do capital accionista apátrida ou sem referências a trabalhar para si.

07 novembro 2009

Vítor Mendes tem que ser chamado à responsabilidade

A distribuição de pelouros na Câmara Municipal de Ponte de Lima demonstra que:
1 - Saiu vencedora a estratégia de Gaspar Martins, aparentemente contra tudo e contra todos.
2 - O CDS é cada vez mais uma simples capa para acobertar uma vasta conjugação de interesses a que o PSD não é alheio.
3 - O Presidente eleito ou é vítima de uma armadilha ou é um executivo displicente, irresponsável, que antecipadamente se demite das obrigações que assumiu perante os seus eleitores. A sua responsabilidade é pessoal e intransmissível. Não foi a fotografia de Gaspar Martins a ir a votos
A ambição sem limites de Gaspar Martins triunfou e não falta quem ponha em causa a sua valia técnica, a sua coerência política. Outros trazem à colação o processo penal em que esteve envolvido e de que se esquivou ausentando-se fisicamente do País e o processo cível que resolveu com um acordo lesivo do seu património acumulado.
A composição deste executivo já nada tem a ver com os primórdios de Daniel Campelo e decerto que, se em 1993 tivesse apresentado um elenco destes, nunca teria sido eleito Presidente da Câmara.
Perante uma cada vez maior exigência de conhecimento, de capacidade de análise e decisão, de cuidado e ponderação na escolha das melhores opções, há em Ponte de Lima uma manifesta inversão de valores.
Esperemos que esta situação, que tem muito de hilariante, não descambe para a tragédia.

06 novembro 2009

A dificuldade de estabelecer uma linha intransponível

A sociedade estabelece uma linha de água a demarcar a seriedade de que estão imbuídos os seus membros. Os que estão abaixo têm que provar serem sérios em qualquer situação em que se envolvam. Os que estão acima não podem ser levianamente acusados de serem pouco sérios porque então é necessário provar minuciosamente que não o são.
Todo o esforço de dignificação pessoal tem sido feito para colocar todos acima da linha de água. Só que, em vez de uma linha intransponível e intocável, por vezes faz-se batota e baixa-se essa linha para que mais pessoas caibam nessa zona de credibilidade assegurada. Mas o pior é quando se insiste em lá manter pessoas sobre as quais os indícios de falta de idoneidade são mais do que muitos.
Se a Lei não prevê formas expeditas de essas pessoas serem escorraçadas de lugares de decisão, haveria que recorrer ao bom senso e às sanções sociais. O problema é que nós falamos muito mas quando se trata de aplicar mesmo e mesmo que sejam só penas morais, levantamos mil objecções, condescendências porque afinal já houve casos semelhantes no passado, medos de sermos demasiado severos.
Precisamos urgentemente de um caso exemplar, esquecer perdões antigos, aplicar penas rigorosas, essencialmente sustentar essas penas a nível da opinião pública, isolar socialmente principalmente as pessoas que prevaricam, que se passeiam impunemente pelos corredores da economia, da politica, da vida social. Quem é capaz de lhes aplicar uma punição séria, de chamar ladrões aos que o são?

05 novembro 2009

Ou comem todos ou não há moralidade

Para haver moralidade todos têm de comer. Parece que era o caso, decerto que não comiam todos da mesma fruta, o preço de cada um era diferente. Havia prémios preventivos e retributivos. Funcionários das Finanças, Agentes da Guarda, Fieis de Armazém, Informadores, Facilitadores, todos os que fechassem os olhos, que não cumprissem os seus deveres de independência, de isenção, de lealdade tinham o seu respectivo prémio.
Este caso da “Face Oculta” espanta pela dimensão, pelo número de pessoas e pelo volume monetário envolvido. E ainda por cima as empresas promotoras tinham largos lucros, evidente prosperidade, um crescimento progressivo, avassalador. Não faltaria muito para que toda a concorrência estivesse definitivamente arrumada, sem hipóteses de pagar valores idênticos pela “colaboração” de tanta gente.
Porém o monopólio no negócio estava pendente da decisão de pessoas mais relapsas a colaborar nestas operações. A solução para o comandante desta empresa tentacular era depor todos aqueles que apresentassem algum entrave à manutenção e expansão dum sistema de favorecimento com vantagens pessoais evidentes e prejuízo de empresas. Como é possível alguém pensar que o seu poder já aí pode chegar?
Distribuir dinheiro, mesmo obtido ilegalmente, tem a apoio de muita gente. Pretender prejudicar quem cumpre os seus deveres é uma ofensa bem mais grave, imperdoável. Nesta sociedade permissiva, mesmo assim não pode valer tudo. Quando se corrompe quem se deixa corromper a sociedade, sob o ponto de vista moral, não ganha nem perde com isso. Quando se afasta alguém honesto e leal, alguém idóneo é a sociedade que perde. Quanta petulância existe nestes homens do dinheiro!

04 novembro 2009

Um Cântico bem Português

A verdade é que existe sempre uma certa simpatia em relação àqueles indivíduos que saíram de uma família pobre ou remediada e conseguem chegar à situação de ricos e poderosos. Portugal está cheio de exemplos, a maioria dos quais mal esclarecidos, porque quando se chega a um certo patamar até há dinheiro para pagar a um biografo oficial.
A verdade é que as piores figuras são feitas por aqueles que se deixam corromper, aqueles cujo único trabalho é receber as tais luvas que tantos lhes aquecem a algibeira. Naturalmente que nem todos serão ricos, mas têm sempre algum poder que utilizam deslealmente em relação a quem neles confiou. O problema é que quando o prejudicado é o Estado a cultura predominante faz com que esses salafrários sejam quase de imediato perdoados.
Esta cultura está nos políticos, nos magistrados, num povo que muito reclama mas é muito complacente. Temos explosões de raiva, pensamos que é chegado o momento de sermos rigorosos, que a partir de agora não deve haver desculpa para ninguém, que há que apertar a exigência, mas de súbito uma lassidão imensa se apodera de nós e mandamos tudo às malvas, deixa continuar assim, afinal somos um povo contemporizador.
Por vezes até pensamos como foi possível ter Salazar e ele ter sido tão mau, tão controlador, tão castrador, tão mesquinho. Mas também como foi possível ter Cunhal, este que não perdoava aos seus, pensava que um homem novo era um homem fiel e não um homem livre e leal. A verdade é que o 25 de Abril deu origem a este tipo de gente que saboreia a vida não dando graças à liberdade e à lealdade, mas cantando loas à libertinagem e ao desaforo.

03 novembro 2009

Um advogado é a melhor gazua

As sucatas são dos melhores negócios do mundo. Negoceia-se aquilo que no balanço das empresas já não aparece, não tem valor. Quer dizer que contabilisticamente tudo aquilo por que se venda é lucro. É esta “legalidade” que permite que os responsáveis de uma empresa, às vezes pertencentes apenas aos quadros intermédios, vendam barato e amealhem para o seu bolso uns cobres de agradecimento pela oferta.
As sucatas não são devidamente valorizadas na sua origem. As empresas agradecem ver-se livres delas. Porque será que aparece tanta gente a intermediar estes negócios? Primeiro porque é necessário abrir portas, canais de comunicação, porque é necessário ter cuidado numa primeira abordagem. A receptividade é uma incógnita quando ainda se não sabe o preço pelo qual alguém se venderá. É necessário utilizar alguém como uma gazua.
A melhor gazua é um advogado, porém nem sempre tem os conhecimentos necessários, os políticos têm mais conhecimentos. Mas obtidos estes os advogados são aqueles que, mercê dos seus direitos de representação e reserva fazem as mediações, se necessário a assinatura dos contratos, não para resolver conflitos, mas para resolver negócios.
Esta vertente de negociantes é que, segundo o Bastonário da sua Ordem faz perder a sua credibilidade. Nenhum advogado vai ser condenado por receber milhares de euros por lobbying, suborno ou por representação indevida de interesses comerciais. Um advogado recebe honorários, os outros luvas. Há algo de imoral nisto. Como somos o País das leis porque não legislar sobre isto.

02 novembro 2009

Ser pobre é um estado de espírito?

Há quem diga que ser pobre é um estado de espírito. O certo é que desde que esta noção também foi apropriada pela economia a noção de pobre mudou muito. Desde que todos estamos mais ou menos envolvidos pela economia de mercado que ser pobre é ter menos que um determinado rendimento, embora no mesmo espaço económico haja quem viva bem, seja feliz com muito menos.
As poucas expectativas fazem o pobre ser um ricaço. São as expectativas que podem ser doentias ou saudáveis conforme o espírito que as alberga. Dizer que alguém é pobre quando o próprio se não sente é tentar inocular no seu espírito um vírus cujo efeito pode ser prejudicial à pessoa. Rico permanece aquele que sendo pobre e sabendo que poderia ter outras expectativas, mas que não conseguiria realizar, consegue resistir a elas com beneficio para si. É um felizardo.
Aquele que é pobre e não resiste a outras expectativas e continua pobre, sem as realizar, é um infeliz. Mas pobre mesmo é aquele que é infeliz por ser pobre, não resiste à ambição de não querer ser pobre, não só cria expectativa de vir a ser rico como o consegue, porém continua infeliz, a ambicionar ser cada vez mais rico e a não ser suficiente realizar muitas das expectativas para ser feliz.
Ser pobre é pois manter esse estado de espírito infeliz pela vida fora, esse azedume para com tudo e todos, essa vontade de levar tudo e todos à sua frente, esse imperdoável sentido de vingança para com os mais renitentes a vergar a servil aos seus caprichos. É isto que caracteriza muitos dos novos-ricos nacionais, essa eterna pobreza de espírito.

01 novembro 2009

Ser pobre é mesmo lixado

Um amigo meu, daqueles que nunca sabemos quando deixam de o ser, falou-me indignado da maneira como os serviços de finanças o perseguem, como perseguem os pobres e não os deixam levantar a cabeça.
Um outro amigo meu do mesmo género do anterior manifestou-se também contra a polícia de trânsito que só persegue os pobres como ele, os obriga a cumprir todas as leis, não lhes dá um desaperto para amealharem uns tostões que tanta falta lhes faziam.
Um velho amigo meu também me diz que nem os cães gostam dos pobres, os perseguem. Apareça um pobre numa praça que está logo um cão a ladrar-lhe às calças do desgraçado, já nem pobre se pode ser. Mas o meu amigo dá uma justificação para este facto, diz que é o cheiro que atrai os cães, é esta explicação tem uma lógica evidente.
Afinal pode não haver perseguição e tornar-se um facto natural a actuação das polícias e de toda a espécie de fiscais mantendo um aperto mais cerrado àqueles que são pobres e assim cada vez mais dificuldades têm em deixar de o ser.
O cheiro que atrai os cães é o mesmo que atrai todos os que tratam das boas práticas e dos bons costumes. Ele vai nas notas e nos cheques com que estes pagam a abertura de umas portas no vasto edifício do capital, de preferência do Estado. Afinal subornar os poderosos é o destino de quem não quer morrer pobre.
Ser pobre é mesmo lixado porque tem que pagar jantares em restaurantes perdidos a indivíduos desconhecidos e os ricos já todos se conhecem, encontram-se em todos os salões frequentados pela alta sociedade, tem formas mais subtis de fazerem os seus negócios. Ser pobre não interessa a ninguém.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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