26 julho 2007

As várias caras do medo na versão triste do poeta

O medo tem muitas caras e o poeta devia saber disso. Ele ter-lhe-á conhecido uma antes do 25 de Abril perante a qual não soçobrou, honra lhe seja. Outros terão conhecido outras, por aí mais tenebrosas e não pestanejaram, honra lhes seja também. Mas é após o 25 de Abril que o poeta tanto se tem aterrorizado com o medo que já ninguém se deixa assustar quando resolve apelar ao estado de alerta.
Se o poeta teve a sensação de que nem sempre convém dizer o que se pensa não terá sido decerto a primeira vez desde o 25 de Abril. Algumas vezes terá calado por medo, outras por motivos menos louváveis, mas com certeza que já teve ocasião de ser leal com alguém, que subserviente não me parece. Com o seu busto altivo haverá lá medo que passe!
Como poeta até deve estar bem habituado a isso, qual fingidor que manobra o medo como bem lhe apetece. Ainda acresce que hoje o poeta não precisa de ser leal a ninguém na sua postura de auto marginalizado do sistema partidário. O poeta já não é leal, nem conveniente, mas caricato.
Como não existe uma cultura de liberdade individual, o que se reconhece ser verdadeiro, cá está ele para servir de exemplo a quem o queira seguir. Se não tem por que se queixar, já quanto à sua contribuição para essa liberdade, que não para a colectiva, não tem sido brilhante. Ocasiões não lhe faltaram para intervir na prática mas quando o fez só borrou as mãos e a escrita. Jornais fechou ele, mas nessa altura o indivíduo ainda não contava.
O poeta é o espantalho do medo, o esconjurador do medo, o delator do medo. Mordaças e estrangulamentos de alma não são com ele. O governo, esse malvado, vive de álibis e aproveita para promover o pensamento único, quando não o medo, esse fantasma tão presente no seu imaginário poético.
Mas nós também devemos ter medo, de um medo que o poeta não tem, medo do nada, do vazio, da vacuidade. Quando o poeta podia dizer algo de novo, que falta uma estratégia, vá de alinhar alguns factos, analisando-os pelo lado do mais reles populismo, como se estratégia fosse navegar à bolina. O poeta está cá para alertar, para lançar atoardas, a mais não é obrigado.
Tudo se podia resolver, talvez com uma mudança de estilo, talvez sujeitando o governo ao interesse meramente partidário, onde o poeta está e não está, conforme a conveniência. O poeta não tergiversa: A liberdade sempre e agora, que já se não pode pensar de maneira diferente de Sócrates, mas também da dele, ideólogo da poesia triste.
O que o poeta não perdoa é que José Sócrates personifique uma política que, bem ou mal, põe em prática, fugindo sempre que pode ao “talvez” com que lhe querem armadilhar o caminho. O que o poeta queria era uma política em que tudo fosse posto em causa a cada momento e que continuamente houvesse alternativas, enfrentamentos, decapitações.
O poeta anda agora atrás de uma vida que perdeu em tantos anos de aparelho. Mas não se tornou inimigo dos partidos políticos, diz. Inimigos são os que promovem o seu fechamento e impedem a mudança e a abertura. O que teria andado esta ave a fazer durante tantos anos? A cuidar da sua vida de certo, que a sua noção de vida política se resume a esta conversa balofa.
O seu medo será de perder o estatuto? O que estará em causa na sua liberdade? O seu valor não pode estar só no busto, na presunção, na vaidade. Porque se analisarmos a sua acção política não passa do habitual desastre que neste País é usual permitir, sem queixas, aos poetas.
Melhor fora dedicar-se à poesia, mesmo com o cariz triste de quem está sempre insatisfeito e de quem da tristeza se não consegue libertar. A não ser talvez quando abandona a Assembleia da República para ir às suas imprescindíveis caçadas. Mas há sempre quem goste destes bustos a que a patine do tempo dá um aspecto solene, de passionarismo decadente.

21 julho 2007

Moderação nos ímpetos regionalistas, persistência na acção

O Portugal, como o sentimos ontem e hoje, na sua dimensão octocentenária, criou-se por aglutinação, já que Afonso Henriques e seus descendentes lá conseguiram agregar esta faixa litoral até ao sul sempre com uma largura semelhante ao Norte e todos ficaram satisfeitos.
Sendo centralistas, como todo o poder o é, tendo transferido a capital para Sul, levaram consigo o efeito centrípeto, o poderio das ordens, o poder do paço real, o poder de esbanjar, o poder de dar luzimento a si mesmos. É isto que caracteriza o poder e o poder está desde então associado a Lisboa.
As nossas gestas descobridora e mercantil reforçaram sobremaneira o seu brilho, a sua condição central, difusora de cultura mas economicamente concentracionária. Do Mondego para cima a influência positiva de Lisboa nunca foi muito relevante mas a negativa é acentuada até pela apatia, pela sua intervenção minimalista.
Só a escolarização geral, embora limitada no tempo, promovida de modo contraditório por Salazar e diga-se, a sua única política louvável, levou a criar um espírito de unidade até aí presumivelmente mais ténue. E o seu propósito era de certo esse, de reforçar o espírito nacionalista.
Por razões políticas após o 25 de Abril criou-se uma divisão norte-sul que, porém, nunca ninguém assumiu como tendo possibilidades e desejos de ser definitiva, antes assentava num princípio de solidariedade que nunca abandonou os protagonistas dessa época. O Norte ajudou a estabilizar o País sem nada pedir em troca.
A manutenção do modelo agrícola de subsistência, a depreciação do valor da produção agrícola, o abandono dos campos, a economia industrial de mão-de-obra intensiva levou a que o Norte, quando estes fenómenos se acentuaram com a integração europeia, visse o valor do seu produto per capita a perder no cômputo nacional.
O mal-estar gerado em quem se acha a alma da nação, e não tem benefícios que se lhe comparem, reverte de novo para factores de índole psicológico que determinam que agora surjam idealistas de um Norte justiceiro, motor de todas as causas nobres, a se misturarem com nostalgias de um Norte às direitas, sempre atrasado no seu passo histórico.
O deslumbre de um brilhantismo da capital perante um regresso à secular apatia do Norte, parece que só entrecortada pelo roncar dos Ferrari do Vale do Ave, faz alguns gritar de raiva quando para si olham.
Estes primarismos, resultado do quanto nos custa olharmos para nós mesmos, sabe-se por onde começa mas não onde acaba, ou antes, não leva a lado nenhum. Os ímpetos incontrolados de quem faz do comentário um escape ou um divertimento são disso uma evidente manifestação.
A inoperância dos governos em detectarem a tempo os problemas resultantes da alteração dos padrões produtivos, a que há décadas se sabia que o Norte inexoravelmente haveria que ser submetido, por efeito da alteração de outros paradigmas em que assentam as sociedades mais evoluídas, é a única razão da actual situação.
Porém todos nós temos a nossa quota-parte de culpa, dado que o clima político é sempre por nossa vontade a favor de politicas imediatistas e não o é a favor do necessário processo de reorganização de toda a administração pública, que se deveria conjugar com a criação de poderes regionais que nele participassem.
Este deveria ser o primeiro passo para poder influenciar os factores que determinarão a adaptação a novos padrões produtivos. Nenhum gestor fará milagres se tiver uma herança caótica e nesta questão não podemos vender o negócio e mudar de ramo. Temos de trabalhar com aquilo que temos e ir mudando sem tentar atropelar as leis a que estes processos estão submetidos.

19 julho 2007

Um testemunho comunista fundamental

Italianos, franceses, espanhóis e portugueses tem andado juntos quanto se trata de ideias políticas, uns mais avançados que outros, com cambiantes mas com muitos traços comuns. Um deles é que todos tiveram, em diferentes ocasiões históricas, partidos comunistas com significativa influência na opinião pública e até nos destinos dos respectivos países.
Nós temos aprendido essencialmente pelo exemplo desses três outros partidos comunistas, sendo o português o mais hermético e fechado dos quatro. Enfim Zita Seabra fala-nos do caso português, com as suas particularidades derivadas das condições histórico-geográficas e políticas próprias. Fala-nos, dado o seu longo e preenchido percurso, da organização, dos métodos usados, dos fins perseguidos.
O partido comunista teve em Portugal um percurso que a partir de certa altura se pode relacionar com o de Zita Seabra e de muitos outros da seguinte forma: Há um período mítico, um revolucionário, um ideológico/ constitucional, um decadente e a actual situação em que a divisão deu origem a um partido moribunda e uma mulher revigorada.
Tendo entrado na primeira fase, ainda com Salazar vivo, participou na construção da seguinte, principalmente desde que assumiu a direcção da U.E.C. e que terminaria no 25 de Novembro de 1975, empenhou-se na terceira com desilusão, na quarta até à sua exclusão para que a quinta não ocorresse.
Pelo seu significativo trabalho de organização Cunhal promoveu-a ao posto hierárquico mais alto a seguir ao seu. Saiu na fase decadente estupefacta com o dito “socialismo real” mas tentando salvar o que fosse possível salvar, salvando a face dos bem-intencionados.
Zita Seabra revela factos que demonstram o cinismo da maioria dos dirigentes, mesmo quando eles se agarram a Álvaro Cunhal como o único que lhes podia salvar a face, escondendo as suas intenções, recuando o mínimo possível e negando o passado tão só porque já o não conseguem repetir.
Mas, se o relato destes factos dá consistência à história, Zita Seabra não se serve deles para fundamentar a sua tese que não é de atacar o carácter das pessoas antes sim de atribuir todas as culpas à política proposta, ao centralismo democrático e à ditadura do proletariado, ao sistema assim criado.
É um livro benéfico para todos porque há tiques que nós carregamos do nosso passado, só possíveis de germinar neste passado e de que nos temos que livrar. Cunhal copiou tiques de Salazar porque tinha a ideia que era o único capaz de se lhe equiparar. Aqueles que ainda hoje fazem elogios a Cunhal, sacralizaram-no e têm a ideia de terem herdado algum bocado do seu espírito.
Só nos libertaremos desta nódoa com a verdade nua e crua que Zita Seabra teve a coragem de contribuir para desvendar. Se muitos mais falassem seria mais fácil mas inacreditavelmente muitos calaram-se e limitaram-se a mudar para o que consideravam as margens do comunismo: O P.S. ou o B.E.
Porque a margem P.S. é desde a Fonte Luminosa radicalmente diferente, o silêncio dos que para lá foram só se justifica pela vergonha de se sentirem enganados. Zita Seabra afirma-o e confirma-o, que nunca foi enganada. Por isso, quando foi expulsa, nunca o aceitou, ao contrário dos dissidentes que nunca lhe perdoaram a frontalidade de ter enfrentado Álvaro Cunhal enquanto lhe deram essa possibilidade.
Os outros foram enganados e saíram cabisbaixos. Ela foi traída pelo seu próprio intelecto e saiu de cara levantada. Como ela, muitos viram no P.C. a única forma de desestabilizar o sistema salazarista e lavaram a peito o seu projecto na medida em que se foram integrando e identificando com o projecto perverso personalizado em Álvaro Cunhal.
Só a qualidade do empenho de cada um levou a que uns vissem mais cedo a natureza do sistema que existia na U.R.S.S. e que cá se queria montar. A saída deste empenho teve no caso de Zita Seabra implicações na saúde, mesmo de natureza psico-somática, mudou-lhe a idiossincrasia.
Ela adquiriu a lucidez de quem não atribui culpas às pessoas mas sim aos sistemas que carregam em si diferentes doses de perversidade. Reordenou as suas ideias à volta de valores humanos que devem prevalecer sobre todas as ideologias. A estas nunca se devia deixar que assumam carácter absoluto. Se pensarmos que os mortos do comunismo merecem o mesmo tratamento que as vítimas do nazismo estamos no caminho certo.
As pessoas também não gostam de vidas completas porque elas comportam necessariamente reviravoltas. Gostam que elas sejam o mais linear possível, para bem as perceberem e à sua maneira. Zita viveu e continua a viver o que há no seu tempo, que de linear nada tem e por isso não agradará a muitos, como se as mudanças fossem em si um crime.
O intelecto de Zita Seabra assumiu diferentes perspectivas intelectuais em diferentes momentos da sua vida, mas sabemos agora o que então desconhecíamos: O intelecto atraiçoa-nos quando gera sentimentos perversos de que não nos “queremos” aperceber. Quando passamos a percebê-los não praticamos qualquer crime.
Cunhal teve sempre essa vida linear, pelo menos no aspecto público, porque antes quis morrer com o seu erro a dar o braço a torcer. Contrariamente a Cunhal, Zita Seabra apercebeu-se do erro e quis rectificar o que de mal tinha feito na sua vida. Foi a tempo de o fazer integralmente: Os mortos, os injustiçados do comunismo ajudaram-na.

14 julho 2007

A Terra, as Cidades, as Regiões e o Progresso

Não foi fácil agarrar o homem à terra, fazer dele agricultor. Os dados históricos indicam-nos a região do Oriente Fértil como aquela em que a agricultura primeiro se desenvolveu e obteve tal êxito que permitiu que se desenvolvessem as primeiras civilizações dignas desse nome, com escrita, organização e leis.
As cidades foram elemento essencial numa evolução assente na complementaridade, mas que se não ficou por aí. Estabeleceu-se uma ligação equilibrada entre o amanho da terra e outras funções diversificadas que só nas cidades podiam ter justificação e garantido o progresso com a simultânea evolução das actividades intelectuais.
A produção de alimentos era suficiente para que um grande número de pessoas se desligasse de novo da terra, já não para serem colectores na natureza, mas para se dedicarem a actividades do espírito, da ciência e da técnica.
Houveram outros processos evolutivos noutras zonas do globo que, por não terem tido traços tão marcantes como este, pela menor repercussão que tiveram no evoluir da humanidade, não deixaram de se basear nos mesmos princípios, estivessem ou não sujeitos a regressões, a problemas demográficos, chacinas, calamidades e pestes.
O nosso canto, e permitam que vos deixe a clara definição dos seus limites, não foi dos mais fustigados por estas ocorrências, dado o seu posicionamento periférico em relação à Bacia do Mediterrâneo, durante largo tempo berço e centro das principais civilizações em que a nossa teve as suas raízes, mas que só cá chegaram após sujeitas a processos de filtragem.
Mesmo a influência civilizacional por mar nunca foi muito profunda, nunca foi muito para além da costa, a não ser no Sul, de certo por razões orográficas e hidrográficas. Mas mesmo o Sul, colonizado pelo Norte, haveria por razões políticas de perder muitas das suas vantagens no correr dos séculos.
Na paisagem acidentada do Centro e Norte do País o povoamento foi sempre muito disperso e os centros urbanos desenvolveram-se mais mercê de decisões administrativas do que da pujança natural dos seus habitantes.
As mudanças operadas na importância relativa das cidades, no atrofiamento de umas e no desenvolvimento de outros, derivaram mais dos equilíbrios entre poder religioso e político, do reino ou império em que nos integrávamos, em questões estratégicas colocadas por quem detinha o poder.
Ainda outros factores condicionaram o desenvolvimento das nossas cidades e dos centros urbanos de menor dimensão. Limitaram-se a ter uma função complementar à ruralidade, deixaram-se vencer pela dificuldade de movimentação, pelas restrições que lhes eram continuamente colocadas.
O interesse das ordens religiosas, do poder religioso, dos proprietários mais abastados convergia com o temor dos menos afortunados em abandonar a pouca terra que detinham para engrossar a massa urbana e se desligarem definitivamente da sua lavra. Quando a fome apertava e tinham que emigrar, faziam-no para longe, para a sorte, que, se houvera que morrer à fome, os não viam mais.
Este passo decisivo que era dado em situações dramáticas e para um futuro incerto não era dado facilmente para as urbes mais próximas e dinâmicas, que aqui quase certa era a indigência que os esperava. E, como aqui já havia bastante, o caminho de volta era o mais recomendado.
As nossas cidades nunca exerceram uma atractividade irresistível, os poderes políticos nunca estiveram interessados em que assim fosse, tudo era mantido em dimensões mínimas para que se não desfizessem equilíbrios no sector primário, aquele que durante séculos constituiu a base das preocupações de quem governava.
O poder religioso foi contribuindo com a sua parte, disseminando os seus agentes pelo território, instituindo centros de culto em regiões inóspitas que desviassem as pessoas da sua confluência natural para o monumento urbano, espelhando uma cultura anti-citadina no campo e anti rural na cidade.
Muito desse poder religioso implodiu, como implodiu a União Soviética. A coincidência entre paróquia e freguesia é hoje um artifício. O Estado tem de “aproveitar a ocasião” para acabar com a palhaçada da nossa organização administrativa, fruto do caciquismo prevalecente há duzentos anos em Portugal. A freguesia, sem a paróquia atrás, falta-lhe a alma.
Uma organização racional do território terá que assentar em municípios mais pequenos e na extinção pura e simples das freguesias. A clara definição de critérios objectivos que tenham em consideração todas as variáveis importantes determinarão com certeza a necessidade de aglomerados urbanos com funções inter-municipais, supra-municipais, regionais ou nacionais em domínios específicos como a justiça, o turismo, o abastecimento de água, etc.
Como é irracional andarmos a votar para todas as organizações que de algum modo exercem funções de soberania ou delas derivadas, ficaríamos pelos concelhos, as regiões e o governo que estabeleceriam entre si, com critérios de razoabilidade, a distribuição de recursos e competências e formas complementares de organização que se justificassem.
A implementação de regiões é um passo essencial numa lógica de aumento da dimensão das unidades intermédias. O Concelho cederia o seu lugar de hoje à Região. A Região passaria a ser a autarquia maior em face do Governo Central.
O número de escalas permaneceria em três, igual ao que hoje temos. Bastavam porque mais uma já seria a confusão. Promovam-se sim cidades, sem preocupações de falsas justiças, que o que há de mais pérfido é distribuir misérias e elefantes brancos por todos.

Visite nos próximos tempos a Serra de Arga e a sua Arte na Leira a poucos quilómetros da saída da auto-estrada de Dem, Caminha.

13 julho 2007

Infelizmente este Couceiro, que tanto desprestigiou o País, não está só

Não vou falar de futebol, de tácticas, preparações, mentalizações. Tão só direi que líder que se preze tem de ser, de alguma forma, um exemplo a ser seguido. E também tem que manifestar algum espírito ganhador, que não espírito caceteiro. Isto vale para um Couceiro qualquer, seja treinador de futebol, como vale para um líder partidário.
A figura que ele está a fazer, de ir pensar, que ele não vai querer prescindir de uma indemnização e não se demite, não o dignifica minimamente. Mas que pode ele fazer de pior do que já fez.
A figura caricata de um líder político da nossa praça nacional ainda não teve oportunidade de contribuir tanto para o desprestígio do País, para borrar a nossa dignidade, porque as suas asneiras ainda não passaram fronteiras, mas não o podemos deixar fazer pior.
Como fraco treinador das suas tropas, que procura adestrar no mais primário trauliteirismo, contagia muitos espíritos que mereciam um bem mais saudável ambiente em que pudessem amadurecer e expor as suas ideias.
Para que os seus correligionários possam ter a ambição de contribuir para o bem nacional, também este não terá outra atitude a tomar na segunda-feira, senão ir-se embora, após a derrota na eleição para a Câmara Municipal de Lisboa.
Este tipo de gente não dignifica nenhuma instituição, seja a Universidade Atlântica, seja qualquer empresa fornecedora de serviços à P.T., seja a Federação Portuguesa de Futebol. Mas não lhes podemos dar-lhe mais oportunidades de sujar a nossa imagem nacional. Esta gente não tem vergonha.

12 julho 2007

Um patrocínio que não dignifica a Câmara de Ponte de Lima

Dos Jornais: Em Felgueiras uma mulher de 47 anos ficou gravemente ferida depois do ataque de um doberman. O animal estava ao cuidado da mulher desde pequeno. Os ferimentos quase mataram a senhora que sofreu lesões muito graves no pescoço e rosto, tendo sido sujeita a várias operações plásticas.
Entretanto a Câmara Municipal de Ponte de Lima patrocina a expansão do comércio deste tipo de feras. Qual será a intenção dos membros da Câmara ao irem ao arrepio do mais elementar bom senso e daquilo que já está acordado no Parlamento Nacional?
Lembremos que na Assembleia da Republica está em fase de aprovação uma lei "mais apertada que reforce a responsabilização de proprietários, comerciantes e criadores de cães considerados perigosos" é o que pretende a deputada Rosa Albernaz, autora do projecto de lei do PS, já debatido na Assembleia da República em simultâneo com outro do CDS-PP. Ambos os diplomas foram aprovados para discussão em comissão parlamentar.
Tanto socialistas como democratas-cristãos partem do princípio de que um animal é potencialmente perigoso e a sua perigosidade depende, em grande medida, do seu proprietário. Daí que o CDS-PP proponha exames de aptidão física e psicológica para os proprietários e o PS defenda a existência de um registo exaustivo de cada animal.
"É preciso que os criadores inscrevam nessa ficha os dados genéticos do animal e a filiação", disse ao JN Rosa Albernaz, ao lembrar a existência de manipulação genética de raças com fins criminosos e ilegais.
O CDS-PP exige ainda aos proprietários um registo criminal limpo de crimes contra a vida e integridade física, contra a liberdade pessoal ou autodeterminação sexual e contra a saúde e a paz públicas. "Por outro lado, aumentamos o número de competências dos funcionários municipais no controlo destes animais", explicou ao JN António Carlos Monteiro, o deputado autor do projecto de lei dos populares.
Na opinião da deputada socialista, que propõe também o aumento das coimas para reincidência na violação da lei, "esta clarificação pretende ser um passo na defesa da segurança das pessoas mas também dos animais". "É que um cão é o que o dono quer que ele seja", concluiu Rosa Albernaz.
A Direcção-Geral de Veterinária divulgou entretanto que estão registados 4 458 cães considerados potencialmente perigosos, ao abrigo da legislação que obriga os proprietários destes animais a fazerem o registo respectivo nas juntas de freguesia. O maior número concentra-se no distrito de Lisboa (1 003), seguindo-se os de Faro (618), Setúbal (612) e Porto (606).
Os distritos com menos registos daqueles animais são Castelo Branco, Portalegre e Vila Real.

09 julho 2007

As minudências como base de uma campanha política

Quando pressuporíamos estar a discutir que funcionalismo público queremos, que estruturas devem suportar as actividades essenciais do Estado, que meios humanos e de que maneira o Estado deve recorrer a eles para executar as funções a que se propõe, vai daí os sindicatos, directa ou indirectamente comandados pelo Partido Comunista, saltam a defender a estagnação e o imobilismo. Nada a opor.
O Execrável, para animar um pouco as suas hostes, puxa de um assobio e apita a todo o contacto físico, qual árbitro novato que ainda não tem a noção do que anda a fazer. Ora este já é uma carraça velha e a única justificação é já estar caquéctico.
Os apoiantes socialistas parecem vacilar, dada a aparente indiferença com que José Sócrates os tem tratado, na sua postura de se dirigir preferencialmente a todo o povo e de por à frente de tudo os interesses nacionais. Muitos já gostariam que o apoio à política socialista se volatilizasse.
Claro que se formos analisar friamente a actuação do executivo só em 50 % estaremos em consonância absoluta com as suas medidas, mas os outros 50 % serão bem compensados porque a alternativa Execrável de certo que só conseguiria, na melhor das hipóteses, uns míseros 10 % do meu apoio.
A social-democracia só perde em apresentar este irresponsável, incapaz sequer de atingir os tempos áureos de manobrador ao serviço do cavaquismo que haveria um dia de saturar o próprio Cavaco Silva.
Mas os apaniguados deste repelente animal político, a que chamamos o Execrável, vêm dizer que está em causa a Liberdade e outros Valores Superiores, quando tão só estão em causa uns tachos de uns tantos que passam a sua vida de funcionários públicos a fazer politica da mais ordinária.
É um triste sinal da incapacidade intelectual, da baixeza moral, do esquecimento do passado, de desrespeito pelos humilhados no antigo regime, confundir interesses mesquinhos de pessoas avulsas, sem valor, sem elevação e a quem ninguém tirou qualquer meio de subsistência.
Por mais que se possa atribuir a erro certos procedimentos, os valores que eles eventualmente possam atingir são tão irrisórios e irrelevantes que quem se põe na sua defesa revela um carácter mesquinho, antes se preocupasse com aqueles que perdem um emprego efectivo.
A alma destes críticos do governo está prenhe de interesses vis, da impunidade em que sempre tem vegetado, da avidez de não olhar a meios para passar por cima de outros bem mais capazes, mas que não possuem ou não se aproveitam do seu cartão partidário.
Critiquem a politica de saúde, discutam a politica de ensino, ponham em causa a política de transporte, ataquem a politica agrícola, de pescas, de turismo, todas as outras e mais algumas que se possam identificar, mas, por favor, com estas minudências não.
Não se trata aqui de calar, mas de dar somente a importância relativa que estas coisas têm. Não servem de base honesta a qualquer campanha política. Não põem em causa qualquer política do governo.

04 julho 2007

Da vitalidade das nossas Urbes está dependente o progresso

O progresso, nas suas variadas e controversas vertentes, tem a sua origem nas cidades. Toda a experiência da humanidade nos diz que o povoamento disperso retira qualquer possibilidade de formação de massas críticas para os mais variegados fenómenos.
Salvam-se as actuais sociedades do espírito que havendo múltiplas formas de contacto entre os seus membros proporcionam, seja qual for o local onde se encontrem, uma comunicação e uma partilha nunca antes vistas. Faltar-lhes-á o contacto pessoal, uma vivência comum dos problemas imediatos, sobra-lhes um distanciamento de certo modo inultrapassável.
Maugrado na grande maioria dos aspectos que interessam ao desenvolvimento sócio-económico e cultural de uma sociedade nada se consegue sem uma certa aglomeração física das pessoas. Quando falamos de desertificação do interior é porque há uma progressiva perca de condições, de que se destaca a dimensão dos “ajuntamentos”, para nele operar o desenvolvimento:
Há uma diminuição do número de habitantes e/ou concomitantemente a sua dispersão pela paisagem; E paradoxalmente, e não tanto, há em simultâneo, por efeito do progresso exterior, um aumento da massa crítica que seria necessária para que se justificassem certos serviços, certos comércios, certas indústrias e, pior do que tudo, para que brotasse algo de novo, nem que fosse enxertado por estranhos.
Para haver a dita aglomeração física é mesmo necessário que não acho excessiva dispersão habitacional. É preciso haver ruas, praças, jardins, locais de encontro. Em tempos, na nossa superior ignorância, ou no nosso exacerbado egoísmo, achávamos uma prepotência inaceitável todas as limitações à construção por parte do municípios e de outras entidades públicas. Todos querem uma casa bem isolada, de preferência no cimo dum penhasco.
Os poderes públicos bem bradavam que o povoamento disperso aumentava o preço da acessibilidade, seja por caminhos, fios eléctricos e telefónicos, condutas de água e saneamento, afinal os custos directos deste luxo, mas não se fazia referência aos custos indirectos, aos efeitos no tecido social.
Os candidatos autárquicos lá ponham timidamente nas suas propostas eleitorais, copiando-se desavergonhadamente, mas sem intenção de mexer uma palha, que eram a favor do desenvolvimento de centros urbanos de dimensão razoável que pudessem comportar algum relacionamento e conforto “citadino”.
Pura ilusão, eles aprenderam que as pessoas dispersas são mais individualistas, mais influenciáveis, mesmo mais fidelizáveis. Têm uma menor noção de pertença a grupos, sentem-se menos envolvidas e responsabilizadas pelo que a sua fidelidade se deve mais à sua imobilidade intergrupal, o conservadorismo em todos os aspectos agradece.
O que agora se não dispensa é mesmo a mobilidade individual. Para nós já é igual se, para nosso interesse, tivermos que ir a 20, 50 ou 100 km. Assim não há cimento social que resista. Desvanece-se o espírito do lugar.
Os autarcas têm responsabilidades porque se sujeitam facilmente ao egoísmo reinante. Os bons exemplos do passado devem-se mais aos condicionalismos exteriores do que a opções conscientes e a saberes transmitidos. Por isso os Centros Históricos estiolam. Hoje a ligação à terra não existe, o que há são lugares com mais ou menos valor comercial.
Ao progresso interessaria que as pessoas se agrupassem mais, contactassem ao nível da vivência diária, cimentassem no lugar as suas relações, nem todas boas necessariamente, fossem mais livres, menos condicionados a abordar as suas opiniões, menos dependentes da imagem de perfil que um dia mais lhes agradou, abandonassem a hipocrisia de arrogar-se a propriedade de algo quando quase tudo é importado, até os valores o são.
No passado, bem ou mal, havia um cimento solidário, assente numa cultura tradicional partilhada, numa religião sempre presente e abrangente, um saber prático capaz de responder a todas as situações da vida real. Não era de todo mau manter deste passado o espírito de participação pessoal no colectivo.
Tudo isto está porém em declínio ou já feneceu. Da cultura popular ficou o folclore, da religião a fraca usança, do saber um desfasamento irremediável, mercê das mudanças operadas nos nossos modos de vida, da participação cívica uma caricatura, quando não uma clara aversão.
E é isto que nos faz duplamente ignorantes porque o somos e estamos convencidos do contrário. Somos ignorantes e ignorantes que o somos. E quando sabemos isto tudo, mais grave ainda, somos masoquistas. Atiramos culpas para cima de todos nós, insultamo-nos e humilhamo-nos.
Vejamos bem as coisas! Erramos, vimos a tradição pelos seus aspectos mais atávicos e prejudiciais ao progresso, vemos o progresso pelos seus lados mais banais e lúdicos. Repensemos, não nos envergonhemos de admitir que estávamos enganados.
O desenvolvimento das nossas terras não se fará por decreto, sem mudança na nossa maneira de ver o futuro. A aposta num futuro consistente é a alma que lhes falta e que só nós lhes podemos dar. Não podemos pensar nelas só por desenfastio, o que acontece enquanto a nossa máxima for só subir na vida, seja lá onde for, e não for viver numa sociedade solidária.
As visões egoístas não nos permitem viver o lugar, porque o associamos a atraso, vemo-lo afundar-se e não queremos ir com ele. Mas não há espiritualidade sem sítio onde nos agarrarmos ao chão. E a maioria de nós não tem a virtuosidade de fazer do mundo o seu lugar.
Só os emigrantes sentiam o que era esse andar desgarrado pelo mundo. Hoje a maioria de nós já aqui assim se sente. O mundo a sério dos emigrantes é agora o nosso mundo virtual em que nós vivemos e em que só nós contamos. Alheamos de tudo o que nos rodeia, ainda lhe não ganhamos afecto.
Pensemos também nos outros. Ponhamos aquilo que temos de melhor a contribuir para a dimensão e grandeza da nossa aldeia, vila ou cidade, cientes de que o futuro é na sua grande parte implacável e indomável pelas nossas fracas forças.
No entanto temos um futuro e por isso temos que dar as mãos, no que isto comporta de mentes, saberes, recursos, disponibilidades. E, se a nossa dimensão não chega, não sejamos mesquinhos e aliemo-nos àqueles que também nos podem deitar a sua mão.
É necessário redimensionar os concelhos, acabar com as freguesias sem dimensão mínima ou agrupá-las quando isso se justificar, definir centros privilegiados de fixação de actividades comunitárias, de serviços locais e estatais e de todos aqueles que, sendo de índole privada, vejam vantagem em aí se instalarem.
Bairrismos e espírito de paróquia dispensam-se. Massa crítica é imprescindível. Do lado da nossa má tradição está o fomento antecipado das divergências com justificações que não vêm a colher. Mas é tão só a aplicação da velha e absurda máxima de que, a morrer, morramos todos mas cada qual para seu lado.
Não podemos discutir a regionalização sem discutir as outras dimensões que lhe são inferiores: As Cidades, as Vilas e as Aldeias, onde ainda haja lugar para elas. Se não podemos ter umas, as mais pequenas, apliquemos a nossa força nas maiores. Só Urbes com vitalidade nos trarão o progresso e sem a expectativa deste não há regionalização que resista.

03 julho 2007

Um acesso cada vez mais labiríntico à Vila

O acesso à Vila de Ponte de Lima pelo lado da Ponte da Senhoria da Guia está cheio de estrangulamentos. Confluem aí duas estradas com muito movimento, vindas da Correlhã e de Arcoselo e logo em seguida há uma entrada para um parque de estacionamento que obriga a virar à esquerda.
Temos depois a chamada curvas das Cunhas, o cruzamento do Gaio e o estrangulamento do Largo do Município onde está a estátua de D. Teresa. Mas a situação vai-se complicar com a utilização do acesso ao cemitério como acesso à zona escolar e a uma nova superfície comercial.
Este acesso, se não forem feitas obras no seu cruzamento com a estrada oriunda da ponte, vai ser complicadíssimo. Mas os problemas já começaram, os grandes transportes para o referido supermercado já por aí transitam.
O piso do acesso ao cemitério é irregular, a ligação ao novo arruamento construído no seguimento do seu primeiro lanço está deteriorado e sobe bastante. Um veículo pesado não conseguiu ultrapassar estes obstáculos e ficou sem embraiagem. O condutor resolveu a situação deixando descair o atrelado contra uma berma, tendo ficado atravessado na estrada.
Uma via que vai ter muito movimento não foi pensada de raiz antes se emendou o que já funcionava mal. O mesmo se pode dizer na ligação inversa à referida superfície comercial. A ver vamos.

As geleiras já chegam à sala de visitas

Desde há muito que advogamos que os autocarros, seja qual for a sua natureza, sejam de carreiras normais de passageiros, sejam de excursões, não deviam entrar na Vila de Ponte de Lima, excepto para cargas e descargas em local para esse efeito fixado.
O único acesso seria feito pela Avenida António Feijó e a inversão de marcha far-se-ia no Largo do Município para cujo efeito deveria ser adoptado. Recentrar-se-ia a estátua de D. Teresa, criando uma rotunda de dimensão adequada, uma placa giratória que facilitasse o muito transito que aí aflui. Reservar-se-ia no final da Avenida todo o espaço necessário para a carga e descarga de autocarros e táxis e o estacionamento destes.
Só excepcionalmente, com pedido prévio, autorização da Câmara Municipal e das autoridades policiais e acompanhamento destas se poderia ultrapassar esta zona da Vila.
Se a Central de Camionagem é exterior à rodovia que circunda a Vila e é normalmente suficiente, já quando as excursões são em número elevado terão que estacionar noutra zona também exterior. Mas o principal problema é a inexistência de um parque de merendas e também de um restaurante de dimensões apropriadas para grandes afluências.
Ainda esta semana perto de mil pessoas de S. João da Madeira por cá passaram mas para almoçar foram à “Malafaia”, em Esposende. A solução desta situação deveria ser da iniciativa privada mas aqui ninguém gosta de correr riscos.
Quanto ao parque de merendas somos contra a sua construção na zona interior da Vila, sendo antes a favor de pequenos parques distribuídos pelo concelho à semelhança dos já existentes na Boa Morte ou Senhor da Saúde, melhorando-se as condições dos existentes.
O que não somos é a favor desta situação ocorrida no sábado passado pelas 19 horas em pleno Largo de Camões.

Aqui pode vir a falar-se de tudo. Renegam-se trivialidades, mas tudo depende da abordagem. Que se não repise o que está por de mais mastigado pelo pensamento redondo dominante. Que se abram perspectivas é o desejo. Que se sustentem pensamentos inovadores. Em Ponte de Lima, como em todo o universo humano, nada nos pode ser estranho.

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Ponte de Lima, Alto Minho, Portugal
múltiplas intervenções no espaço cívico

"Big Man" 1998 (1,83 de altura) - Obra de Mueck

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O mais perfeito retrato da solidão humana